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á com perspectivas de receber o benefício do indulto de pena, ex-ministro chefe da Casa Civil foi considerado reincidente e viu suas chances de voltar à política minguarem com a Lava-Jato
Durante o ano de 2013, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu começou a cumprir pena de 7 anos e 11 meses de prisão pelo crime de corrupção ativa fruto de sua condenação no julgamento do mensalão. Em 2014, o petista ganhou direitos de trabalhar fora da prisão, depois progrediu para o regime aberto, após cumprir um sexto da pena, e tinha a perspectiva de obter o indulto no final de 2015. Entretanto, o processo de “recuperação” para o apenado Dirceu, que caminhava seu curso normal, ruiu em consequência da Operação Lava-Jato.
Em agosto, a PF (Polícia Federal) e o MPF (Ministério Público Federal) deflagraram a 17ª fase da Lava-Jato, denominada Pixuleco. Dirceu e seu irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, foram presos acusados de utilizar empresas de fachada para desviar recursos de obras da Petrobras e repassar recursos ilícitos ao PT, por meio do então tesoureiro do partido João Vaccari Neto. Aliás, a Lava-Jato batizou a 17ª fase como Pixuleco em alusão ao termo utilizado por Vaccari para denominar o pagamento de propina.
Dirceu voltou para a prisão em regime fechado no dia 8 de agosto. Segundo as investigações da PF, a empresa do ex-ministro, a JD Assessoria, faturou quase R$ 40 milhões, entre 2006 e 2013, de empreiteiras no Brasil e no exterior. O petista recebeu dinheiro mesmo quando esteve preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, cumprindo pena por seu envolvimento no mensalão. Oficialmente, Dirceu alegou que os recursos eram fruto de contratos de consultoria. Mas, para a força-tarefa da Lava-Jato, boa parte das consultorias eram, na realidade, contratos de fachada para desfaçar o pagamento de propina.
Por conta dessa investigação da Lava-Jato, Dirceu virou novamente réu de uma ação penal, mas agora pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro. O processo contra o ex-ministro está em fase final, tramitando na 13ª Vara Federal de Curitiba e nas mãos do juiz Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava-Jato. Integrantes do MPF acreditam que o ex-ministro possa pegar mais 30 anos de prisão.
Na prática, depois que ele foi condenado no mensalão, Dirceu passou oito meses cumprindo pena em regime aberto antes de voltar a ficar preso integralmente. No início do ano, o ex-ministro acreditava que poderia obter o indulto natalino, agora no final de 2015, caso não tivesse nenhuma outra implicação penal.
O processo relacionado à Dirceu na Operação Lava-Jato está na fase final de instrução. Os membros do MPF acreditam que o ex-ministro, na realidade, pode ter sido o mentor tanto do esquema do mensalão quanto da Lava-Jato. Além disso, com o avanço das investigações da Lava-Jato, aparecem novos indícios da participação do ex-ministro no esquema, como uma possível ligação feita por Dirceu a diretores do Banco Schahin, que teria balizado um empréstimo de R$ 12 milhões tomado, em 2004, pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para a PF, essa operação visava quitar dívidas da campanha presidencial de Lula de 2002.
Início de 2015 – Depois de cumprir parte da sua pena fruto de condenação no julgamento do mensalão, Dirceu cumpre regime aberto, aquele em que precisa apenas se recolher a casa a partir das 17h, mas fica inteiramente livre para exercer suas atividades durante o dia.
escobertas ainda no primeiro semestre de 2014, as pedaladas fiscais tornaram-se a maior preocupação do governo Dilma Rousseff em junho deste ano, quando o TCU (Tribunal de Contas da União), ao julgar as contas do governo do ano anterior, considerou a prática ilegal e deu prazo de 30 dias para a presidente explicar as irregularidades. Seguiu-se uma batalha jurídica recheada de troca de acusações pesadas e muita pressão sobre o tribunal.
As pedaladas são atrasos propositais de repasses do Tesouro Nacional a bancos públicos e autarquias para o pagamento de compromissos do governo, como os benefícios de programas sociais. Na prática, o governo transferia despesas para o mês seguinte todos os meses, melhorando artificialmente as contas federais. Algo providencial em pleno ano eleitoral.
Um dia antes da apresentação do relatório do ministro Augusto Nardes ao plenário do TCU, o procurador de contas Júlio Marcelo de Oliveira pediu ao tribunal a rejeição das contas da presidente Dilma em 2014. Ele apontou “irregularidades graves”, que iam além das pedaladas. No dia 17 de junho, o plenário do tribunal aprovou uma proposta inédita apresentada pelo relator: concedeu prazo de 30 dias para o governo apresentar as suas justificativas. Nardes registrou que o deficit divulgado pelo governo pularia de R$ 17,2 bilhões para R$ 29,6 bilhões se fossem consideradas as pedaladas.
Três dias mais tarde, o procurador Júlio Marcelo, do Ministério Público do TCU, concedeu entrevista exclusiva ao Fato Online, afirmando que o governo havia utilizado dados falsos para obter “dividendos eleitorais” em 2014. “O governo considerou dados irreais para criar artificialmente uma situação de fôlego fiscal, de sobras de recursos. E isso traz, evidentemente, dividendos eleitorais”, afirmou.
Em 6 de julho, às vésperas de embarcar para uma viagem internacional, a presidente Dilma reuniu no Alvorada líderes da sua base de apoio para apresentar a justificativa para as pedaladas. Era algo bem simples: as pedaladas vinham ocorrendo desde 2013 e haviam sido aprovadas pelo TCU na prestação de contas do ano anterior.
O procurador Júlio Marcelo contestou a tese, lembrando que a prática só havia sido identificada pelo tribunal no segundo semestre de 2014, quando as contas do governo relativas a 2013 já haviam sido julgadas.
A defesa do governo, entregue ao TCU pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, em 22 de julho, buscou apoio no princípio da segurança jurídica, que veda a prática de alterar normas que afetam situações já consolidadas.
Dois dias depois, o ministro relator concedeu entrevista exclusiva ao Fato Online, afirmando que recebeu pressão de representantes tanto do governo como da oposição durante a análise das contas: “É um momento importante para o país, e as pressões existem, do governo, que pressiona muito”. Ele informou ter recebido cinco ministros de Estado, entre eles Aloizio Mercadante, da Casa Civil e Joaquim Levy, da Fazenda, além de 8 a 10 senadores, incluindo Aécio Neves (PSDB/MG) e vários deputados do governo e da oposição.
Quando Nardes já se preparava para apresentar o relatório final, em 12 de agosto, o Ministério Público do TCU apresentou um fato novo: a abertura de crédito suplementar, por decreto presidencial, sem autorização do Congresso Nacional, com efeitos negativos nas medas fiscais. Além dos dois decretos citados por Júlio Marcelo, a equipe de auditoria do tribunal identificou mais 10 nas mesmas circunstâncias. O relator concedeu mais 15 dias de prazo para a defesa de Dilma. O rombo nas contas do governo já beirava os R$ 100 bilhões. O cerco se fechava.
No dia seguinte, após analisar os decretos sem número, o Fato Online revela que a abertura de créditos sem autorização legislativa comprometia diretamente a presidente Dilma. Os decretos têm a assinatura da presidente. Era “a pá de cal” para a rejeição das contas, previu um ministro do TCU.
Em 15 de agosto, mais uma informação exclusiva do Fato Online: o vice-presidente da República, Michel Temer, em exercício do cargo de presidente, assinou pelo menos um dos decretos irregulares que tinham como fonte de recursos um suposto superavit financeiro, “excesso de arrecadação” e até emissão de títulos do Tesouro. Se a presidente tivesse as contas rejeitadas e viesse a perder o cargo por isso, o vice também seria punido.
Cinco dias mais tarde, em nova entrevista exclusiva ao Fato Online, o ministro Nardes informou que o rombo fiscal já atingia R$ 104 bilhões. Ele reafirmou a responsabilidade da presidente sobre as suas contas: “Eu entendo que o governador, o prefeito, a presidente, todos têm que cumprir a lei. A lei é para todos”. Em 26 de agosto, o governo pediu – e recebeu – mais 15 dias para se explicar.
O processo de análise das contas atingiu a temperatura máxima em 15 de setembro. Após receber centenas de xingamentos e uma ameaça de morte, Nardes pediu proteção à Polícia Federal e à Polícia Rodoviária durante os seus deslocamentos pelo país.
Em 4 de outubro, três dias antes da decisão final do TCU, o advogado-geral da União anunciou que pediria a suspeição do ministro Nardes, o que resultaria na indicação de novo relator. Adams afirmou que, em diversas entrevistas, o ministro teria declarado que rejeitaria as contas presidenciais – o que teria infringido o regimento interno do tribunal e a Lei Orgânica da Magistratura.
Dois dias depois, o advogado-geral entrou com pedido de liminar no STF (Supremo Tribunal Federal) para suspender o julgamento das contas da presidente até que ocorresse a troca do relator. No dia do julgamento das contas, em 7 de outubro, o governo perdeu todas as ações no Supremo e teve início a derradeira sessão do TCU.
A resposta dos ministros veio já na questão preliminar. Por unanimidade, o plenário rejeitou o pedido de afastamento do relator. Em seguida, numa decisão inédita, novamente todos os ministros recomendaram a rejeição das contas da presidente. No seu relatório, Nardes classificou as pedaladas como uma “desgovernança fiscal” e apontou um rombo de R$ 106 bilhões nas contas federais. Para a oposição, a rejeição das contas era o argumento que faltava para a abertura do processo de impeachment de Dilma.
Começou, então, uma nova batalha, desta vez muito mais política do que técnica. Dois dias após a decisão do TCU, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), avisou que a recomendação não chegaria ao plenário do Congresso neste ano. Alegou que a pauta estava trancada pela discussão do Orçamento da União para o próximo ano. Mas o que ele pretendia, na verdade, era manter o governo na defensiva, com uma espada sobre a sua cabeça, até que conseguisse resolver a sua própria tragédia: as acusações de envolvimento nos desvios da Petrobras. Estavam nas mãos de Cunha vários pedidos de abertura de processo de impeachment contra Dilma, mas ele argumentava que a presidente só poderia perder o mandato por algo acontecido no atual mandato. E as pedaladas haviam acontecido no mandato anterior.
Em 10 de outubro, mais duas revelações do procurador Júlio Marcelo derrubaram o argumento central de Cunha. Primeiro, o procurador apurou que o governo federal continuava pedalando em 2015. A dívida com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica Federal já somava R$ 40 bilhões. Além disso, como revelou o Fato Online com exclusividade, a presidente Dilma voltou a editar decretos para abertura de créditos suplementares sem autorização legislativa, custeados por “excesso de arrecadação” e superavit financeiro. Quatro decretos baixados em 27 de julho e em 20 de agosto abriram créditos no valor de R$ 95,9 bilhões. A edição desses novos decretos, com a assinatura da presidente Dilma, seriam utilizados como o principal argumento para a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Em 20 de outubro, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), apresentou ao plenário a decisão do TCU que recomenda a rejeição das contas da presidente Dilma. A CMO (Comissão Mista de Orçamento) ganhou prazo de 40 dias para elaborar um parecer. No dia seguinte, Renan concedeu prazo de 45 dias para o governo.
Mas o governo não quis abusar da bondade de Renan. Em 4 de novembro, o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, acompanhado de Adams, entregou ao presidente do Congresso a defesa de Dilma. O advogado-geral repetiu os velhos argumentos: “Existem decisões antigas do TCU e nunca rejeitadas, mas desta vez desconsideradas. Sempre que se muda a jurisprudência, muda-se para o futuro, mas nesse caso há uma jurisprudência nova”.
Numa decisão paralela, em 17 de novembro, a CMO aprovou projeto de lei que autoriza o governo federal a fechar o ano de 2015 com um deficit primário de R$ 119,8 bilhões, incluindo aí uma compensação de R$ 50 bilhões pelo atraso do repasse de recursos para o pagamento de benefícios sociais – as pedaladas de 2015. Uma forma de ajeitar as contas deste ano, evitando assim a abertura de um processo de impeachment.
ogo após o fim do recesso parlamentar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu assumir o protagonismo político e apresentou com o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, a chamada Agenda Brasil. A intenção de Renan era mostrar alterativas para enfrentar a crise econômica e se afastar das chamadas pautas conservadoras defendidas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que vinham dominando o Congresso.
Inicialmente, a Agenda Brasil era formada por 28 propostas englobadas em três eixos prioritários, cujo objetivo principal era reaquecer a economia, aperfeiçoar a segurança jurídica e melhorar o ambiente de negócios do país. Dois dias depois da apresentação da Agenda Brasil, o ministro Joaquim Levy se reuniu, na presidência do Senado, com vários senadores para discutir as propostas apresentada por Renan e levou mais sugestões, aumentando a quantidade de propostas.
Visando acelerar a tramitação dos projetos, foi instalada no Senado, no início de setembro, a Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional, presidida pelo senador Otto Alencar (PSD-BA). Atualmente a agenda conta com mais de 40 propostas, sendo que pelo menos 15 já foram aprovadas.
Entre as propostas apresentadas pela Agenda Brasil destacam-se o PLS 186/2014, que libera os jogos de azar no Brasil, como jogo do bicho, bingos e cassinos, e a Lei de Responsabilidade das Estatais e a Autoridade Fiscal Independente.
O presidente do Senado criou ainda uma Comissão Especial de Desburocratização, presidida pelo ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Mauro Campbell e relatada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli.
De acordo com Renan, o objetivo da Comissão é “melhorar o relacionamento do estado com cidadãos e empresas pela redução da burocracia e clareza nas informações, com foco na eliminação de exigências documentais desnecessárias e nas origens culturais da burocracia”.
pesar de ter pedido ao STF autorização para investigar 13 dos 81 senadores, Rodrigo Janot consegue ter seu nome aprovado para a Procuradoria-Geral da República
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi outro que enfrentou uma longa e dura sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Reconduzido ao cargo pela presidente Dilma Rousseff, o procurador percorreu um longo caminho antes de conseguir ser aprovado. No colégio eleitoral que o reconduziu, pelo menos 13 senadores estavam sendo investigados pelo sabatinado, por envolvimento nos desvios da Petrobras.
A sabatina de Janot foi a segunda mais longa da história do Senado, durou cerca de 10 horas, perdendo apenas para a sabatina do ministro Luiz Edson Fachin. O maior desafio do procurador foi enfrentar alguns senadores como Fernando Collor de Mello (PTB/AL), que disparou várias acusações contra Janot durante a sabatina.
Dias antes de ter seu nome confirmado pela presidente Dilma Rousseff, uma ação da Polícia Federal, atendendo a pedido do procurador-geral da República, como parte de uma das fases da Operação Lava-Jato, apreendeu na residência do senador Fernando Collor três carros de luxo: uma Ferrari vermelha, um Porsche preto e uma Lamborghini prata.
Também foram alvos da Operação Politeia, da Polícia Federal, os senadores Fernando Bezerra (PSB/PE) e Ciro Nogueira (PP/PI). Apesar das críticas a Janot, o procurador acabou sendo reconduzido. Coincidência ou não, ele teve 13 votos contrários no plenário do Senado, o mesmo número de senadores investigados pela Operação Lava-Jato.
urante muito tempo, as sabatinas de autoridades no Senado Federal foram realizadas com certa tranquilidade e rapidez. Em 2015, no entanto, com o acirramento político entre governo e oposição, a situação foi bem diferente. O ministro Luiz Edson Fachin, indicado em abril deste ano para a vaga de Joaquim Barbosa no STF (Supremo Tribunal Federal), acabou sofrendo as consequências.
Apesar de ter recebido apoio de todos os ministros do Supremo, o nome de Fachin enfrentou resistência dentro do Senado por causa das suas posições políticas. Visto como petista por parte dos senadores, o ministro enfrentou a mais longa e dura sabatina já realizada pelo Senado até hoje.
Foram 11 horas de questionamentos e pressões. O ministro respondeu sobre tudo: desde ligação com o PT, até questões relacionadas ao julgamento do mensalão, mudanças no Código Penal, aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, liberação das drogas, religião.
Desde a sua indicação, em abril, até a posse, em junho, foram dois meses de pressões. Ao longo do período em que aguardava a sabatina, Fachin foi visto diversas vezes circulando pelos corredores do Senado em busca de apoio.
Apesar de ser visto como petista, Fachin teve como maior aliado no Senado o tucano Alvaro Dias (PR). Relator da indicação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Dias sofreu as consequências nas redes sociais, onde foi duramente criticado. Fachin tomou posse no STF dia 16 de junho.
divulgação de uma foto, no início de setembro deste ano, não apenas chocou o mundo, mas chamou a atenção para um dos mais sérios problemas do planeta: os refugiados sírios. A imagem mostrada era a de Aylan Kurdi, um menino de três anos que morreu afogado ao tentar atravessar o Mar Egeu, junto com sua mãe e o irmão. A embarcação em que eles estavam naufragou a caminho da Europa. A criança se transformou em símbolo das pessoas que hoje fogem da guerra civil no Oriente Médio, mas não minimizou o problema de milhares de pessoas E o Brasil, nos últimos seis anos, vem se tornando o destino não apenas deles, mas de milhares de outros imigrantes forçados.
Aylan, sua mãe e seu irmão, fazem parte da triste estatística que contabiliza cerca de três mil mortos ou desaparecidos ao tentar cruzar o Mediterrâneo, segundo a Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados). Mais de 440 mil refugiados conseguiram chegar à Europa e estão distribuídos em vários países. O Brasil recebeu mais de dois mil sírios nos últimos anos, como Mohammad Kheir Alnmere que deixou seu país depois que o filho morreu com câncer, por não ter recebido atendimento médico em função da guerra. Ele deixou o restante da família na Síria e só trouxe a filha, que também ficou ferida em decorrência dos bombardeios.
A foto que chocou o mundo, feita nos primeiros dias de setembro de 2015, não diminuiu o número de refugiados. Para este final de ano, são esperados a chegada diária de pelo menos cinco mil pessoas em países europeus. Nações de outros continentes também estão recebendo os imigrantes forçados, como o Canadá, que pretende acolher pelo menos 25 mil sírios. O mesmo aconteceu com o Brasil, que está reforçando suas embaixadas na Jordânia, Líbano e Turquia para que as emissões dos vistos tenham maior celeridade.Ainda em setembro, depois da divulgação da imagem do corpo de Aylan em uma praia, a presidente Dilma Rousseff anunciou o interesse do governo brasileiro em receber os sírios.“Reitero a disposição do governo brasileiro de receber aqueles que, expulsos de suas pátrias, para o Brasil queiram vir, viver, trabalhar e contribuir para a prosperidade e para a paz”, disse Dilma, após classificar como “terrível”, a morte do menino. “Queremos oferecer-lhes essa esperança”, ressaltou a presidente.
Conforme o Conare (Conselho Nacional de Refugiados), em 2015, o número de refugiados cresceu em 791 pessoas, em relação ao ano passado, quando o total de estrangeiros somavam 7.609. O maior volume de imigrantes forçados se deu entre 2013 e 2014. Foram reconhecidos pelo governo brasileiro, 2.308 novos casos no país. Os motivos do refúgio é praticamente os mesmos de anos anteriores, que é a grave e generalizada violação dos direitos humanos, com mais de 51% dos casos. Apesar ter havido um aumento, mas mulheres continuam sendo minoria entre as solicitações.
Na questão do acolhimento, o Brasil está entre os países que melhor atuam nesta área, apesar de não ser o destino final de alguns dos refugiados. Muitos, como Mohammad Alnmere, querem seguir para outros locais, como os Estados Unidos. Mesmo assim, em agosto, o governo lançou uma campanha nacional de conscientização e sensibilização sobre os refugiados. Na ocasião, o secretário Nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, também presidente do Conare, explicou que mesmo que a parcela dos estrangeiros que entram no Brasil é pequena, é necessário que o país tome medidas de acolhimento e de assistência.
“Os refugiados são pessoas que perderam muito: familiares, moradia, trabalho e a possibilidade de ficar em seu próprio país”, afirmou Vasconcelos, durante o lançamento da campanha, ocorrida no Dia Mundial Humanitário, em 19 de agosto. Além disso, o Conare está aprimorando seu sistema de atendimento e fará entrevista com os estrangeiros por meio de vídeo conferência. O sistema está sendo instalado nas unidades do conselho em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Entretanto, o governo ainda está esbarrando na questão do idioma, já que muitos dos refugiados que aqui chegam são em sua maioria de africanos, haitianos. A ideia é montar um cadastro de voluntários que falem árabe, creole (idioma do Haiti), além de línguas africanas, como lingala, suaíli e wolof.
Segundo Beto Vasconcelos, o governo deverá realizar os primeiros cursos de língua portuguesa no próximo ano, em São Paulo. Será por meio do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), do Ministério da Educação. A primeira etapa será de sete turmas, que terão aulas básicas, além de noções da cultura brasileira. Será a primeira capital brasileira a implantar o serviço. As aulas acontecerão em escolas públicas da rede municipal, em horário noturno.
Em 2015, o Brasil se juntou ao Peru e Bolívia para acabar com as organizações criminosas que agiam no Norte do país como coiotes. Eles cobravam até US$ 3,5 mil para atravessar haitianos que queriam entrar no país pelo Acre. A viagem, que começava por Porto Príncipe, durava até 15 dias, segundo mostrou Fato Online na série de reportagens “Na rota dos coiotes”, publicada em junho. O trabalho mostrou que muitos dos imigrantes eram explorados pelos traficantes de seres humanos, além de haver relatos de estupros, roubos e muita humilhação, como contou com exclusividade, o haitiano Esdras Hector:
Ao chegarem no Brasil, a situação de humilhação não era diferente. Os haitianos, principalmente, eram enviados para uma antiga chácara, em Rio Branco, que foi transformada em um abrigo. As condições eram insalubres, com a falta de higiene e superlotação. Houve períodos, no início de 2015, que o local atendia pelo menos 400 pessoas, o dobro de sua capacidade. Da capital acriana os imigrantes seguiam de ônibus para São e ao Sul do país em busca de emprego.
Além das condições precárias em que os haitianos e de estrangeiros de outras nacionalidades, houve um impasse entre os governos federal, do Acre e de São Paulo. Nenhum dos três queria assumir os custos e as responsabilidades pelos estrangeiros. O governador acriano, Tião Viana (PT) reclamou, na ocasião, que o estado estava sobrecarregado. Durante um período, o envio de imigrantes de Rio Branco para a capital paulista foi suspenso. Entretanto, depois de algumas reuniões políticas, o caso foi resolvido, com as três áreas trabalhando de forma conjunta.
Para resolver a questão dos coiotes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esteve nos dois países vizinhos, onde ficou definido um trabalho policial conjunto na fronteira. Para o ministro, a exploração dos haitianos por traficantes de seres humanos, era caso de violação dos direitos humanos. “Eles (os estrangeiros) chegam ao Brasil debilitados, sem saúde, com fome, o que inaceitável”, afirmou Cardozo, ao anunciar uma série de medidas. Além de a embaixada brasileira em Porto Príncipe, ter agilizado a emissão de vistos, o que amenizou a situação dos haitianos.
Em novembro, todos os haitianos que entraram no país a partir do Acre tiveram sua permanência regularizada pelo governo. A medida atinge inclusive os estrangeiros deste país que não estão nas condições refugiados humanitários, como milhares de vítimas do terremoto que ocorreu em Porto Príncipe, em 2010. Eles terão a alguns benefícios sociais que os brasileiros, como o Bolsa Família. São 43.781 pessoas nessas condições, segundo o Ministério da Justiça.
Depois de passar pelo Senado, a proposta de Lei de Migração, que vai substituir a Estatuto do Estrangeiro, legislação ainda do regime militar. A proposta está sendo analisada em uma comissão especial da Câmara e a expectativa é que seja levada a plenário no próximo ano. A tramitação do projeto foi uma das principais vitórias do governo para o setor. “A atual lei é antiga, burocrática e é filhote da ditadura”, explica Beto Vasconcelos. O novo estatuto é aberto, moderno e humanista”, acrescenta o secretário.Vasconcelos explica que a Lei da Migração vai criar novas alternativas para os estrangeiros que chegam e os que estão já no país. A atual legislação, segundo ele, foi feita baseada em doutrina de segurança nacional. “É mais obrigações do que a regulamentação do processo de imigração no Brasil”, observa. “Estamos criando instrumentos novos e com menos burocracia”, comenta o secretário.
nstituída para auxiliar nas investigações da Operação Lava-Jato, a CPI da Petrobras colecionou polêmicas e momentos inusitados, foi acusada de ter sido usada de forma deliberada para proteger o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), e sempre ficou a reboque das apurações do MPF (Ministério Público Federal) e da Polícia Federal. Apesar de ter sido um fracasso do ponto de vista técnico, a investigação parlamentar tem um único mérito: foi a responsável pela casca de banana que pode custar o mandato do peemedebista.
Instalada em fevereiro deste ano, a CPI teve como presidente o deputado Hugo Motta (PMDB/PB), um parlamentar desconhecido de 26 anos, que está apenas no segundo mandato. Durante a investigação, Motta tornou-se um dos grandes aliados de Cunha e conseguiu conduzir a CPI de modo a não atingir o presidente da Câmara. O relator, deputado Luiz Sérgio (PT/RJ), fez uma espécie de pacto de não agressão com outros deputados integrantes do colegiado. A CPI não investigaria o PT e, em troca, também não avançaria em apurações relacionadas a Cunha e a outros congressistas então citados nas investigações da Lava-Jato.
Logo na primeira sessão, no início de março, os trabalhos da CPI foram marcados por várias discussões entre deputados. O deputado Edmilson Rodrigues (Psol/PA), por exemplo, chamou aos gritos o presidente da CPI de “moleque”; Motta, por sua vez, revidou: “Não serei um fantoche”. A confusão ocorreu após o parlamentar paraibano ter anunciado a criação de quatro sub-relatorias para auxiliar nas investigações. As discussões entre parlamentares, inclusive, tornaram-se uma tônica da CPI. Durante os oito meses de investigação, não foram poucas as vezes em que deputados discutiram publicamente.
Ainda em março, a CPI protagonizou o único momento que pode resultar em algum crédito da investigação. Mesmo assim, um crédito acidental. Antes mesmo de qualquer pedido de convocação, o presidente da Câmara se apresentou, espontaneamente, para dar um “testemunho” ao colegiado. Após várias palavras de apoio e atos de desagravos de aliados, Cunha foi questionado pelo deputado Delegado Waldir (PSDB/GO) se ele tinha alguma conta na Suíça. O parlamentar fluminense negou: “Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu imposto de renda”, disse. Depois, a PGR descobriu que existiam pelo menos quatro contas na Suíça atribuídas a ele e a sua esposa, a jornalista Cláudia Cruz. Por isso, o Psol ingressou com representação no Conselho de Ética da Câmara contra o peemedebista.
Durante oito meses, a CPI da Petrobras colecionou momentos constrangedores. Inclusive a própria apresentação do relatório final, que pediu o indiciamento de pessoas que já estavam respondendo a diversas imputações por envolvimento na Lava-Jato.
Em uma das primeiras sessões, em abril, um homem soltou pelo menos cinco roedores no plenário da CPI. Identificado como Márcio Martins de Oliveira, o responsável pelo protesto era ligado ao deputado Paulinho da Força (SD/SP), aliado do presidente da Câmara. Os ratos surgiram no início do depoimento do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Outro momento constrangedor da CPI ocorreu durante uma das viagens dos parlamentares a Curitiba, no Paraná. Em maio, a doleira Nelma Kodama, apontada como amante de Alberto Youssef, cantarolou a música “Amada Amante”, de Roberto Carlos, para explicar sua relação com o doleiro. “Tem até uma música do Roberto Carlos: ‘a amada amante, a amada amante’. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela”, disse Kodama. No final, a CPI pediu cerca de 70 indiciamentos. Como as pessoas citadas pela CPI já respondiam a processo, na prática, todos os pedidos de punição feito pelos parlamentares foram inócuos.
m bom reflexo do conturbado cenário político e da crise de governabilidade da presidente Dilma Rousseff é o curto tempo que durou sua equipe do primeiro escalão. Sem conseguir avançar com as pautas sensíveis ao governo no Congresso, a presidente foi obrigada a reformular o desenho da Esplanada dos Ministérios sem concluir o primeiro ano do segundo mandato.
A reforma ministerial anunciada em outubro teve duas importantes mudanças: ampliou a participação de ministros ligados a Lula nos cargos estratégicos no Palácio do Planalto e aumentou o espaço do PMDB no governo, com sete pastas no comando do partido aliado.
Dilma só conseguiu cortar oito ministérios e não 10 como havia prometido. Do total de 39 pastas, 10 perderam o status de ministério, mas ela criou outros dois. A petista também cortou 30 secretarias nacionais e anunciou o corte de 3 mil cargos comissionados, mas essas baixas ainda estão em fase de execução. Os salários da presidente, do vice-presidente Michel Temer e dos ministros também foram reduzidos em 10%.
Os cortes foram determinados para superar a crise econômica, mas a mudança realmente importante foi a que resultou no jogo de forças políticas na Esplanada. Dilma precisava garantir apoio no Legislativo para ter mais sucesso em votações. Além das pautas de interesse do governo, em especial as da agenda econômica, Dilma precisava garantir apoio no Congresso para não sofrer impeachment.
Todos os partidos aliados foram contemplados, mesmo os que estavam ameaçando deixar o governo. Fazem parte do governo: PMDB, PDT, PTB, PCdoB, PRB, PSD, PR e PP. Não há previsão de quando a grave crise política termina por completo, mas, após a reforma ministerial, o Palácio do Planalto conseguiu manter os vetos-bomba – as propostas que aumentariam os gastos do governo e que foram vetadas por Dilma – e aprovou a alteração da meta fiscal de 2015.
Durante o anúncio da reforma, a presidente disse que os partidos da base têm direito de governar com ela. O seu maior teste será no enfrentamento do impeachment. O processo foi deflagrado em dezembro.
O anúncio aconteceu com duas semanas de atraso. A presidente pretendia fazer as mudanças no primeiro escalão até o dia 23 de setembro, mas um impasse sobre os cargos do PMDB para a infraestrutura atrasou o fechamento do acordo. O partido é o grande vitorioso da reforma. Desde o início, Dilma queria reduzir de seis para três as pastas nas mãos da legenda, mas, após intensas negociações, o partido ficou com sete ministérios com orçamentos relevantes.
A grande mudança ocorreu no Ministério da Saúde, que passou a ser dirigido por um indicado do partido na Câmara, o deputado Marcelo Castro (PMDB/PI), ligado ao líder do partido na Casa, Leonardo Picciani (PMDB/RJ).
Como Dilma negociou pessoalmente a indicação dos ministérios com o PMDB na Câmara, Temer e caciques do partido no Senado se sentiram isolados da articulação política e atrasaram as negociações da reforma. Membros do PMDB também ficaram insatisfeitos por Dilma ter chamado a ministra da Agricultura Kátia Abreu para intermediar as conversas com o partido. Como a peemedebista é novata no partido, eles não a reconhecem como representante da legenda.
Hélder Barbalho (PA) saiu do Ministério da Pesca e passou a chefiar Portos e Pesca, que foi incorporado à Agricultura. Eliseu Padilha (RS) foi mantido na Aviação Civil e pediu demissão no início de dezembro. Henrique Eduardo Alves (RN) também ficou no Turismo e Eduardo Braga (AM), em Minas e Energia. O deputado Celso Pansera (RJ) ocupou a sétima cadeira do quadro ministerial, assumindo Ciência e Tecnologia.
A Secretaria-Geral da Presidência foi incorporada à Secretaria de Relações Institucionais e foi criada a Secretaria de Governo. Também houve uma fusão entre Previdência Social e Trabalho. Outra mudança foi a criação do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.
O novo desenho da Esplanada também ampliou a participação de ministros ligados a Lula. Jaques Wagner comanda hoje a Casa Civil. Assumiu articulação política do governo Ricardo Berzoini e a comunicação oficial da Presidência foi mantida nas mãos de Edinho Silva.
Lula também passou a “despachar” de Brasília semanalmente. Desde as negociações da reforma, o ex-presidente viaja à capital todas as semanas e articula com parlamentares, ministros e com a presidente. Esse comportamento só foi interrompido quando o ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, foi preso pela Lava-Jato. Eles eram bem próximos.
om prenúncios de dias difíceis, os desdobramentos das investigações da Operação Lava-Jato no STF (Supremo Tribunal Federal) foram responsáveis pela abertura, inicialmente, de 21 inquéritos envolvendo 49 políticos, alguns dos quais já não ocupam mais funções públicas. Todos investigados por suposto envolvimento no esquema de corrupção detectado na Petrobras. Em março, quando o Supremo autorizou a instauração dos inquéritos, o Congresso ficou sob suspeição.
Em alguns momentos, nas investigações que tramitam no STF contra autoridades que detêm foro privilegiado, o caso parecia estar esquecido ou, no mínimo, em ritmo lento. Isso se comparado com os desdobramentos das investigações contra pessoas sem foro privilegiado na 13º Vara Federal de Curitiba, sob o comando do juiz Sérgio Moro. Nesse cenário, mal se imaginava que o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo, ainda seria protagonista de dias nunca antes vistos na história desse país: a primeira prisão preventiva de um senador em pleno exercício do mandato.
Atualmente, o número de investigados já chega a 68. Somente no Senado, existem investigações instauradas contra 14 parlamentares, aproximadamente 20% de toda a casa legislativa. O rol de investigados ainda conta com 23 deputados e 29 ex-congressistas ou operadores do esquema de corrupção na Estatal, além de um ministro governista e um ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).
Estão na lista dos investigados: o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL); o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), já denunciado; líderes partidários, como os senadores Delcídio do Amaral (PT/MS) e Humberto Costa (PT/PE); e gente de peso, como o ex-ministro Edison Lobão (PMDB/MA), o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB/AL), o ministro do TCU, Raimundo Carreiro, e até mesmo o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.
A investigação desencadeada pela Lava-Jato, no âmbito do STF, foi responsável por revelar que o presidente da Câmara mantinha quatro contas secretas na Suíça, as quais ele nunca declarou à Receita Federal e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Nem mesmo à CPI da Petrobras ele admitiu ter essas contas, motivo pelo qual ele é alvo de um processo por quebra de decoro parlamentar.
A operação, no entanto, foi cercada por situações inesperadas, como a revelação mais intrigante de uma nova etapa no escândalo de desvios de recursos da Petrobras: o senador Delcídio do Amaral, então líder do governo no Senado, teria tramado um plano de fuga e queria comprar o silêncio de Nestor Cerveró com uma mesada de R$ 50 mil.
Por tentar atrapalhar as investigações, o senador foi preso preventivamente obrigando ao próprio Senado, dividido com a revelação, a homologar a detenção do parlamentar que exercia também a função de líder do governo na Casa. A chamada “lista do Janot” foi apenas o início, e as investigações mostram que muito ainda pode ser revelado em relação ao escândalo de desvios de recursos na Petrobras.
Neste ano, a Lava-Jato teve vários desdobramentos: em julho, houve a Operação Politeia. Nessa etapa, foram apreendidos documentos e carros de luxo do senador Fernando Collor (PRB/AL). Em outras frentes, a PF realizou buscas de documentos na Câmara e Senado para embasar as investigações iniciadas com a apresentação da “lista do Janot”. Mas não houve desencadeamento de operações nestas frentes paralelas.
Na segunda etapa, em dezembro, foram realizadas buscas e apreensões na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e no escritório dele na capital fluminense, e também na residência oficial em Brasília. Esta etapa foi batizada de “Catilinárias” em referência aos discursos célebres do cônsul romano Marco Túlio Cícero contra o senador Catilina, que planejava tomar o poder e derrubar o governo republicano.
Nessa fase, ainda foi cumprido um total de 53 mandados de busca e apreensão, em sete estados e no Distrito Federal, envolvendo nove políticos, entre eles: o senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB/MA); o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB/PE) – ex-ministro da Integração Nacional –; os deputados federais Aníbal Gomes (PMDB/CE) e Eduardo da Fonte (PP/PE) foram alguns dos atingidos nessa etapa.
Apesar de o presidente do Senado já colecionar seis inquéritos por envolvimento direto ou indireto na Lava-Jato, até o momento o parlamentar não foi alvo de nenhuma operação. Na Operação Catilinárias, Janot pediu diligências também contra Renan, mas Teori negou. As primeiras menções a políticos surgiram ainda no ano passado, por meio do acordo de delação premiada de Alberto Youssef, firmado com o Ministério Público.
No início, Youssef declarou que efetuava repasses por meio de um posto de gasolina controlado por ele, o Posto da Torre, em Brasília, a parlamentares do PP e também ao senador Fernando Collor. Logo depois, novas revelações surgiram com as delações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, corroboradas pelas do dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa. Informações prestadas pelo lobista Fernando Baiano também ajudaram a intensificar as investigações contra os políticos.
Agora, com a delação do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, acredita-se que a Lava-Jato possa ter informações, até mesmo, relacionadas à atuação do Poder Executivo no esquema de desvios de recursos da Petrobras.
Com a intensificação das investigações, a Lava-Jato desvendou uma rede de tráfico de influência comandada por políticos em várias frentes. Em uma delas, de acordo com os investigadores, está o presidente da Câmara, cuja denúncia, apresentada em agosto, revela que ele usou um requerimento da ex-deputada Solange Almeida (PMDB/RJ) para pressionar Ricardo Pessoa a repassar pelo menos US$ 5 milhões em propina por contratos na Petrobras.
Em outra frente, as investigações apontam que o ex-ministro Edison Lobão e o senador Renan Calheiros pediram “ajuda financeira” para a formalização de obras em Angra 3, no Rio de Janeiro, e também por contratos em navios-sonda. Nesse mesmo caminho, “ajuda financeira” também foi negociada em troca de “ajuda” na liberação da aquisição da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
As denúncias também apontam que outros políticos, ligados ao PP, receberam recursos diretamente do doleiro Alberto Youssef e que o PT foi igualmente beneficiado com o esquema. Pelas investigações, houve até negociações mantidas por Collor e por membros do Banco BTG Pactual para incorporar uma rede de 120 postos de combustíveis à Petrobras. A negociata gerou propina de pelo menos R$ 3 milhões.
Se durante o ano de 2014, a Operação Lava-Jato causou surpresa ao começar a desarticular um mega-esquema de desvios de recursos públicos na Petrobras; em 2015, a força-tarefa chegou à sua maturidade ao atingir políticos e integrantes do clube de executivos mais influentes do Brasil.
Em uma outra ponta, o juiz que conduz o processo, Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, se notorizou como um dos principais personagens no combate à corrupção em todo o Brasil ao deferir decisões consideradas polêmicas, como o encarceramento do presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht e ao proferir decisões que criticaram o uso de desvios de recursos para sustentar o sistema político brasileiro.Desde o ano passado, a Lava-Jato já tinha avançado em relação à atuação das empreiteiras e suas relações com agentes políticos. No final do ano passado, por exemplo, a Justiça Federal do Paraná já havia aceitado denúncia contra executivos da UTC Engenharia e dirigentes da Camargo Corrêa, por envolvimento no esquema. Outros até então indiciados eram o ex-diretor da refino e abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e o lobista Fernando Soares, o Baiano.
As prisões da Lava-Jato começaram, em 2015, em janeiro quando o juiz Sérgio Moro determinou a prisão temporária do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Ainda em janeiro, Moro decretou a preventiva de Cerveró.
Em seguida, a Lava-Jato investe contra o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e começa a revelar detalhes do esquema de repasses de recursos para a legenda por meio de contratos de fachada com empreiteiras ligadas à Petrobras e ao partido. Com o transcorrer das investigações, o ex-gerente da Petrobras Renato Duque revela que somente o PT teria recebido entre US$ 150 milhões a US$ 200 milhões fruto de desvios em contratos da Estatal com empreiteiras ligadas ao esquema.
Em seguida, a Lava-Jato prende o lobista Milton Pascowitch, apontado como operador da empresa Engevix no esquema e ligado diretamente ao ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. A prisão de Pascowitch resulta em maiores detalhes sobre a atuação de Dirceu como lobista e resulta na prisão do petista, meses depois, acusado de também ter sido beneficiado pelo esquema. Inclusive no período em que permaneceu preso por sua condenação no julgamento do mensalão.
Em junho, a Lava-Jato desencadeia uma das fases mais ousadas da operação: a que resulta na prisão de Marcelo Odebrecht. Desencadeada em junho, a operação “Erga omnes” também é responsável pela prisão de Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. Essa foi a primeira vez que os maiores empresários do país foram presos. Até o final de dezembro, por exemplo, Odebrecht ainda permanecia sob custódia da Polícia Federal do Paraná.
A prisão de Odebrecht foi importante para intensificar as investigações sobre o poder de influência da empreiteira no governo federal. Foi graças a essa fase, por exemplo, que se descobriu as estreitas ligações entre o empreiteiro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na 17ª fase, chamada de “Pixuleco”, a Lava-Jato foi responsável por colocar novamente na prisão o ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, suspeito de ter criado o esquema de desvios de recursos da Petrobras ainda quanto estava no cargo. Nas demais fases, a Lava-Jato revelou informações relacionadas a mais um operador do esquema, João Augusto Henriques, que acabou, com o transcorrer das investigações, revelando a existências de contas na Suíça atribuídas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
Neste ano, a Lava-Jato também descobriu irregularidades relacionadas a contratos na Eletronuclear e no Ministério do Planejamento para contratação de crédito consignado. Entretanto, estas duas investigações foram desmembradas do processo inicial e agora tramitam no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente.
Por fim, a Lava-Jato chegou ao homem mais próximo do ex-presidente Lula: o pecuarista José Carlos Bumlai. Bumlai foi preso acusado de fraudes no contrato para operação do navio-sonda Vitória 10.000. Pelas investigações, ele teria contraído um empréstimo de R$ 12 milhões utilizado para quitar dívidas da campanha presidencial de Lula de 2002 e 2006.
ma das frases mais repetidas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), nestes 11 meses no cargo, é “Vocês não vão morrer de tédio”. De fato, a parte do Legislativo que representa o povo teve de tudo nesse período comandado pelo peemedebista. De pedaladas regimentais a pautas-bomba, passando por mandados de busca e apreensão, processos no Conselho de Ética, ameaça de renúncia e derrubada de líder.
Eleito presidente em 1º de fevereiro com o apoio de 14 partidos da base e da oposição, Cunha começou a conduzir a Câmara dos Deputados em um estilo nunca visto antes. Muitas vezes comparado por aliados com o ex-deputado Luís Eduardo Magalhães pelo estilo de comandar a Casa, tomou uma série de medidas que geraram reclamações nos bastidores. Diminuiu as horas extras de servidores, passou a cobrar a presença dos deputados em plenário, sob pena de corte de salário, mudou a estrutura de comunicação e bancou o início do projeto do Parlashopping.
Evangélico e de orientação política conservadora, foi eleito com amplo apoio da bancada BBB (boi, bala e Bíblia). Formada por deputados de grupos religiosos, ruralistas e das armas, a bancada viu, por exemplo, temas antes parados saírem das gavetas. Isso ocorreu com a votação da redução da maioridade penal e com o Estatuto da Família. Quando os deputados modificaram a idade mínima para um jovem ser julgado como um adulto, o peemedebista lançou mão de uma "pedalada regimental".
A rédea curta na presença em plenário se mostrou útil para acelerar o ritmo da Câmara no primeiro semestre. A presença em plenário aumentou significativamente. Os deputados voltaram a usar as quintas-feiras para sessões deliberativas, algo que não ocorreu na legislatura passada. Também foi possível, pelo quorum sempre alto, votar propostas mais complexas, como a reforma política e a redução da maioridade penal.
Ao mesmo tempo que conduzia a Câmara com mão de ferro, chegando a demitir dois diretores por “quebra de confiança”, ainda arranjou tempo para brigar com o senador Renan Calheiros (PMDB/AL), presidente do Senado. Os dois estiveram afinados enquanto Renan ficou afastado do Palácio do Planalto. Porém, quando o senador alagoano resolveu se reaproximar, farpas não faltaram.
Na discussão da reforma política, por exemplo, o tempo do mandato de senador gerou rusgas entre os dois. Depois, quando a Câmara tinha uma lista extensa de pautas-bomba, projetos que causavam impacto negativo nas contas públicas, Cunha disse existir uma tentativa de criar “constrangimento” contra a Câmara.
Cunha tinha controle não só do plenário, mas também das comissões. Tanto que articulou para que nomes de sua confiança estivessem em cargos-chave. Especialmente nos colegiados criados para analisar projetos específicos, como o Estatuto da Família e o que acaba com o Estatuto do Desarmamento, e nas CPIs. Além disso, lançava mão de uma tropa de choque.
Neste ano, a Lava-Jato teve vários desdobramentos: em julho, houve a Operação Politeia. Nessa etapa, foram apreendidos documentos e carros de luxo do senador Fernando Collor (PRB/AL). Em outras frentes, a PF realizou buscas de documentos na Câmara e Senado para embasar as investigações iniciadas com a apresentação da “lista do Janot”. Mas não houve desencadeamento de operações nestas frentes paralelas.
A virada de sorte de Cunha começou no fim do primeiro semestre. Foi quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, resolveu apresentar um inquérito ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo a investigação por corrupção e lavagem de dinheiro com base no depoimento de dois delatores da Operação Lava-Jato. No dia seguinte, ele anunciou seu rompimento com o governo e sua ida de forma oficial para a oposição.
Porém, com o aumento das denúncias e a demora de Cunha em aceitar um pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, os principais partidos de oposição deixaram de apoiá-lo e passaram a pedir sua saída do cargo. O ápice do distanciamento ocorreu em 19 de novembro, quando uma série de manobras de aliados do peemedebista acabou resultando em um discurso inflamado da deputada Mara Gabrilli (PSDB/SP) e em diversos parlamentares deixando o plenário no meio de uma sessão deliberativa.
Ida para a oposição que culminou com a aceitação do pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff em 1º de dezembro. A decisão gerou farpas entre o peemedebista e a petista em entrevistas e pronunciamentos pela televisão. Em resposta a uma questão de ordem de partidos oposicionistas, Cunha estabeleceu um rito processual que depois foi contestado e suspenso de forma liminar no STF. Ele recuou e cancelou suas respostas. Depois, o rito aplicado, por conta de brechas na legislação, foi parar na corte suprema novamente.
Na última semana dos trabalhos na Câmara, Cunha teve dois dias para esquecer. Em 15 de dezembro, seus escritórios e residências foram alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal. O STF havia autorizado o pedido de Janot de revistar os locais baseado em provas contra o peemedebista. Horas depois, seus aliados não conseguiram segurar a pressão, e o Conselho de Ética, por 11 votos a nove, decidiu continuar com o processo contra ele por quebra de decoro parlamentar após seis adiamentos e inúmeras manobras.
A representação assinada pela Rede Sustentabilidade e pelo Psol foi protocolada no Conselho de Ética em 14 de outubro. Mas o processo levou duas semanas para sair da Secretaria-Geral da Mesa, onde foi numerado, e retornar ao órgão.
No dia seguinte, mais um golpe do procurador-geral da República contra o peemedebista: ele entrou no Supremo com um pedido de afastamento de deputado fluminense do mandato e da presidência da Casa. De acordo com Janot, existem diversos indícios do uso da posição de comando e do próprio cargo de deputado federal para obter vantagens ilícitas, ameaçar parlamentares e testemunhas e atrapalhar processos contra ele.
Em outra frente, as investigações apontam que o ex-ministro Edison Lobão e o senador Renan Calheiros pediram “ajuda financeira” para a formalização de obras em Angra 3, no Rio de Janeiro, e também por contratos em navios-sonda. Nesse mesmo caminho, “ajuda financeira” também foi negociada em troca de “ajuda” na liberação da aquisição da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Ele ainda responde a outros dois inquéritos no STF. Um, baseado em depoimentos de delatores da Operação Lava-Jato e cuja abertura de ação penal já foi defendida pelo procurador-geral da República. O outro trata das contas na Suíça em fundos do tipo truste que têm ele, a mulher, Cláudia Cruz, e uma das filhas como beneficiários dos rendimentos.
situação da presidente Dilma Rousseff (PT) não vai bem. Apesar de sua vitória com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que cancelou a eleição para a comissão especial que analisará a denúncia do impeachment, a situação na Justiça Eleitoral não é das melhores. Com quatro ações tramitando contra ela no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o desenrolar, previsto para o próximo ano, pode culminar em uma cassação do mandato de Dilma e de seu vice, Michel Temer (PMDB).
Uma das mais esperadas, a Aime (Ação de Impugnação de Mandato Eletivo) foi proposta no dia 2 janeiro pela Coligação Muda Brasil, pela qual o senador Aécio Neves (PSDB/MG) concorreu às eleições presidenciais de 2014. A Coligação pede a cassação do mandato da presidente e do vice por abuso de poder político e econômico praticado pelos candidatos eleitos durante as eleições de 2014.
A polêmica começou quando a relatora, Maria Thereza de Assis Moura, determinou o arquivamento da ação por não encontrar indícios suficientes para prosseguimento do caso no tribunal. Com a decisão monocrática (individual) de Maria Thereza, o PSDB entrou com recurso para que fosse reconsiderado o arquivamento. O caso foi parar no plenário do tribunal, para deliberação dos demais ministros.
Gilmar Mendes, vice-presidente do TSE, foi o primeiro a votar e divergir da relatora, com pedido de vista (mais tempo para analisar) dos ministros Gilmar, Fux e Luciana Lóssio, a abertura do processo só foi possível nove meses depois do protocolo da ação, no dia 6 de outubro. Gilmar Mendes, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Henrique Neves e Toffoli decidiram pelo prosseguimento do caso. As ministras Maria Thereza e Luciana Lóssio votaram pelo arquivamento.
Essa foi uma das ações mais conturbadas e com uma inédita polêmica: a decisão do presidente do tribunal, Dias Toffoli. Após Maria Thereza ter levantado questão de ordem pedindo para sair da relatoria, Toffoli pediu a defesa da petista Dilma e ao PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) de Aécio que se manifestassem sobre a mudança de relatoria para o ministro Gilmar Mendes, notório adversário do governo e que faz duras críticas à gestão petista.
Como Gilmar foi o primeiro a divergir, acompanhado pela maioria, em caso de impedimento de Maria Thereza, ele seria o relator. Toffoli, pelas prerrogativas do cargo, poderia ter decidido sozinho.
Como já era esperado, o PT se manifestou contra Gilmar na relatoria e PSDB a favor. O presidente do tribunal, logo em seguida, acatou manifestação dos petistas pela permanência de Maria Thereza à frente da ação que, anteriormente, ela mesma havia pedido para arquivar por não encontrar fatos suficientes para continuação da ação. No dia 15 de dezembro, a ministra determinou que a ação corresse em segredo de Justiça. A próxima fase, para o caso, é a apresentação da defesa pela presidente Dilma Rousseff.
Além da Aime, duas Aije (Ação de Investigação Judicial Eleitoral) acusam a presidente de abuso de poder político e econômico, além de uso indevido de meio de comunicação. Em uma delas, o PSDB questiona a utilização de programa social, reforma de um fogão a lenha e doação de uma prótese dentária a uma eleitora. Também é questionado a utilização de bens, servidores e serviços públicos na campanha eleitoral de Dilma, entre outras acusações de cunho eleitoral.
Já na Representação 846, o relator é o ministro Luiz Fux. As acusações são de captação ou gastos ilícitos de recursos financeiros durante a campanha eleitoral de 2014. Entre as alegações, o PSDB contesta a realização de gastos que extrapolam o limite informado; financiamento de campanha mediante doações oficiais de empreiteiras contratadas pela Petrobras como parte da distribuição de propinas; e a falta de comprovantes idôneos de significativa parcela das despesas efetuadas na campanha dos requeridos.
Já em abril deste ano, Gilmar prorrogou o tempo de permanência dos gastos de campanha de Dilma disponíveis para consulta na internet. De acordo com o ministro, uma das fornecedoras de santinhos para campanha eleitoral da petista em 2014, a VTPB Serviço Gráfico, recebeu R$ 22,9 milhões sem qualquer estrutura de funcionamento legal. Com a retirada da prestação de contas do ar, a investigação sobre o caso ficaria comprometida. Além disso, o ministro enviou pedidos para que autoridades responsáveis investigassem o caso.
Em outra frente das investigações, o TSE pediu para ouvir o empresário Ricardo Pessoa, da UTC, conhecido como chefe do clube do cartel que desviava recursos da Petrobras e repassava percentual dos contratos a partidos políticos. O tribunal registrou R$ 7,5 milhões transferidos ao caixa da petista Dilma Rousseff. Uma das linhas de investigação da Lava-Jato foi o uso de doações legais para lavagem de dinheiro desviado da Petrobras. Tudo indica, que 2016 não será um ano fácil para a presidente.
ode-se dizer que, na Economia, o ano de 2015 começou mais cedo: logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em outubro de 2014. Naquele momento, houve uma guinada na política econômica que vinha sendo adotada e, inclusive, havia sido defendida durante a campanha eleitoral. De gastos públicos, crédito farto e juros estáveis, a necessidade de fazer um ajuste nas contas públicas dominou o cenário. Tudo para tentar recuperar a confiança dos investidores na capacidade do governo brasileiro de controlar o deficit público.
Com essa missão, em janeiro, com a posse de Dilma para o segundo mandato, Joaquim Levy assumiu o Ministério da Fazenda e Nelson Barbosa o do Planejamento. Na verdade, os dois já estavam ocupando cargos de assessores especiais da presidência da República desde novembro de 2014 e viraram o ano com o anúncio das primeiras medidas que marcariam o novo período: as MPs (Medidas Provisórias) 664 e 665, que mexeram em regras de acesso e nas fórmulas de cálculo de benefícios previdenciários e trabalhistas.
Levy, com formação em Chicago (EUA), um dos centros da ortodoxia econômica, ex-funcionário do banco Bradesco e figura de destaque de governos tucanos e petistas anteriores, enfrentou fogo amigo do PT desde sua indicação. Os embates dentro e fora do governo foram constantes. Seu colega de equipe econômica, Nelson Barbosa, desenvolvimentista e muito identificado com o PT e com a presidente, foi voz contrária às teses da Fazenda em vários momentos.
O terceiro comandante da equipe econômica, o presidente do BC (Banco Central), Alexandre Tombini, foi confirmado no cargo também antes da posse. E, ainda em outubro, após a eleição, liderou a reunião do BC que voltou a subir os juros básicos.
Diante dos sinais de mudança na Economia, o mercado financeiro começou o ano apostando que 2015 teria menos crescimento econômico, mais inflação, juros mais altos e dólar mais caro. Tudo isso aconteceu, mas numa intensidade tão maior que nem mesmo o mais pessimista dos analistas de mercado naquele momento seria capaz de imaginar.
Para se ter uma ideia: no dia 2 de janeiro de 2015, o primeiro Boletim Focus do ano (o relatório semanal divulgado pelo BC com base nas projeções feitas por economistas de bancos e consultorias) estimava crescimento de 0,5% para a economia, inflação oficial (IPCA) de 6,56%, taxa básica de juros (Selic) de 12,50% e um dólar valendo R$ 2,80. Passados 11 meses, no relatório da primeira quinzena de dezembro, os mesmos economistas esperavam uma recessão de 3,62%, inflação de 10,61%, Selic de 14,25% e dólar a R$ 3,90.
E o que aconteceu para que piorassem tanto as expectativas? É o que vamos entender relembrando os principais fatos de 2015 na Economia. Sem perder a linha do tempo e a cronologia dos acontecimentos, a memória está dividida em blocos temáticos, de forma a facilitar essa volta ao passado recente.
desafio de equilibrar a entrada e a saída de dinheiro dos cofres públicos deu o tom do ano. Ainda no apagar das luzes de 2014 (no dia 29 de dezembro), foram conhecidas as primeiras medidas: as MPs 664 e 665, que mudaram regras de acesso e cálculos de benefícios sociais, como pensões por morte, seguro aos pescadores artesanais, auxílios-doença, seguro-desemprego e abono salarial.
Em 19 de janeiro, Levy anunciou o pacote de aumento de impostos que, segundo a previsão da época, incrementaria o cofre público em R$ 20 bilhões. Ele previa:
Em 27 de fevereiro, o governo editou MP alterando a política de benefício fiscal, que desonerou a folha de pagamentos de 56 setores econômicos. Essa política, que previa a contribuição previdenciária das empresas sobre o faturamento e não sobre o total de salários pagos, tinha alíquotas de 1% e de 2%. Com a MP, elas subiram para 2,5% e 4,5%. A política de desoneração havia sido adotada em 2012, no primeiro mandato da presidente. Ao anunciar a mudança, Levy bateu de frente com os petistas defensores dos incentivos: ele classificou a desoneração de “grosseira” e uma “brincadeira” que custou R$ 25 bilhões aos cofres públicos. Depois de uma rebelião nos bastidores de Brasília, Dilma chamou a atenção do ministro publicamente.
O tema também foi motivo para outro embate político do governo: o presidente do Senado, Renan Calheiros, não aceitou a proposta por meio de MP, alegando se tratar de elevação de tributos, e o instrumento legal adequado tinha que ser um projeto de lei. Dilma foi obrigada a retirar a MP e a reenviá-la em um novo formato.
Apesar do perfil técnico, Levy apostou na sua própria habilidade de negociador e assumiu pessoalmente a interlocução com o Congresso. A ideia era preencher o vácuo existente na articulação política e tentar aprovar rapidamente as primeiras medidas do ajuste.
No entanto, somente em maio, após muitos cafés, almoços e jantares de Levy com políticos da base aliada (boa parte deles às escondidas), a equipe econômica pôde comemorar a aprovação das primeiras MPs do ajuste fiscal enviadas no final de 2014.
Também em maio, o governo anunciou o primeiro corte no Orçamento de 2015 e, àquela altura, ainda apostava em um superavit primário. O corte de R$ 69,9 bilhões foi menor do que defendia o ministro da Fazenda. A insatisfação dele com o número foi apontada como o motivo para sua ausência na entrevista convocada para explicar os detalhes do Orçamento. Oficialmente, ele alegou estar resfriado.
Em julho, o governo teve o primeiro choque de realidade quanto à situação das contas públicas e foi obrigado a anunciar uma redução na economia de dinheiro público que conseguiria fazer para 2015 e para os dois anos seguintes. Para 2015, o superavit equivalente a 1,1% do PIB encolheu para um saldo positivo de apenas 0,15% do PIB. E daí para um rombo de R$ 80 bilhões e, em seguida, de R$ 119,7 bilhões foi questão de meses, já que se juntou ao deficit admitido, o impacto das pedaladas fiscais (dívidas do governo que foram roladas nos últimos anos com ajuda de instituições oficais, como a Caixa Econômica Federal e que ainda não foram integralmente quitadas).
A justificativa para a queda drástica na economia de recursos públicos foi o ritmo lento da economia que frustrou muitas receitas esperadas com o pagamento de impostos e de outros tributos. O governo ainda anunciou uma trajetória mais suave, embora mais longa, de aperto fiscal nos próximos dois anos, também reduzindo as metas de superavit.
Mas, no fim do mês seguinte, em 31 de agosto, veio mais um sinal de que a confusão nas contas públicas era maior do que se imaginava. Em uma decisão surpreendente,o governo enviou ao Congresso Nacional um projeto de Orçamento para 2016 com previsão de rombo de R$ 30,5 bilhões. Com queda na arrecadação e dificuldade em cortar gastos, a estratégia escolhida para a presidente foi empurrar para os parlamentares a tarefa de encontrar uma saída para corrigir o deficit público.
Como resultado desse movimento político, apenas 10 dias depois, em 9 de setembro, o país perdeu o grau de investimento um tipo de atestado de bom pagador para os investidores estrangeiros dado pelas agências internacionais de classificação de risco). A S&P (Standard&Poor’s), uma das três maiores agências do tipo, rebaixou a nota brasileira para o grau especulativo.
A perda do selo de bom pagador já era uma ameaça, mas a equipe econômica acreditava que seria possível evitá-la ou, no mínimo, retardá-la. A decisão da S&P provocou mais tensão no governo, colocando o ministro Joaquim Levy no centro de um tiroteio e de um forte desgaste, comandado por parte da cúpula do PT. O envio do projeto do Orçamento de 2016 com deficit de R$ 30,5 bilhões foi interpretado como um grande blefe do governo que custou muito caro ao país. Pressionado, o Palácio do Planalto anunciou, em 14 de setembro, previsões de cortes de gastos – que atingiram em cheio o funcionalismo público e aumento de impostos, como a recriação da CPMF. De novo, para dar certo, as medidas dependiam do aval do Congresso Nacional. De novo, o ministro Levy provocou irritação ao declarar que os trabalhadores não se incomodariam de pagar um pouco mais de imposto.
Em outubro, novo susto vindo das agências internacionais de classificação de risco. Dessa vez, foi a Moody’s quem rebaixou a nota atribuída ao Brasil, deixando o país à beira de perder mais uma vez o grau de investimento. A justificativa dada para a decisão foi a confusão no ambiente político que dava poucas perspectivas de que o governo brasileiro conseguiria resolver, no curto prazo, o imbróglio das contas públicas, especialmente pela dificuldade de aumentar impostos.
No esforço para mudar a imagem de que o governo só queria elevação de impostos, mas não cortava gastos, Dilma anunciou uma reforma administrativa: extinguiu oito ministérios e determinou o corte de 30 secretarias e de três mil cargos comissionados. Os resultados financeiros efetivos, no entanto, não apareceram em 2015.
Com a demora na execução do ajuste fiscal e com a perspectiva de retomada do crescimento econômico cada vez mais distante, o ministro Joaquim Levy voltou à fritura. Em novembro, as críticas dos petistas, até mesmo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, intensificaram-se. O nome do ex-presidente do BC Henrique Meirelles circulou nos meios políticos e no mercado financeiro como um provável substituto. Na prática, a política seria a mesma de Levy, mas com um novo comandante. O problema foi a resistência de Dilma ao nome de Meirelles. Levy, apesar do fogo amigo, manteve-se no cargo.
Banco Central começou o ano subindo os juros básicos, dando sequência ao processo iniciado após as eleições de outubro de 2014, quando Dilma Rousseff foi reeleita. Em março, a taxa básica de juros, a Selic, voltou a atingir o patamar de janeiro de 2009, auge da crise financeira internacional: 12,75% ao ano.
Com a elevação dos juros e o ajuste econômico, os bancos retraíram os empréstimos e também aumentaram o custo do crédito. A face mais evidente dessa nova postura pode ser ilustrada pelo setor imobiliário.
A Caixa Econômica Federal, principal instituição financiadora da casa própria, fez o primeiro grande movimento em maio quando reduziu a parcela que pode ser financiada na compra de imóveis usados e elevou os juros. Na esteira da Caixa, o Banco do Brasil também restringiu o crédito, elevando as taxas de juros cobradas em operações com recursos da poupança.
O principal motivo para isso: as fortes retiradas de dinheiro da caderneta de poupança. Durante praticamente todo o ano, a mais tradicional das aplicações financeiras registrou mais saques do que depósitos. Houve uma perda de atratividade com a alta da inflação e dos juros básicos, pois a poupança rende apenas 0,5% ao mês mais a variação da TR, a taxa referencial.
Em maio, com medo dos reflexos da redução da principal fonte de recursos para o setor imobiliário, os empresários da construção começaram a alertar para um “apagão habitacional”.
Na tentativa de minimizar as dificuldades do mercado imobiliário, no final de maio, o BC permitiu que os bancos usassem parte dos recursos (até R$ 22,5 bilhões) que seriam recolhidos à instituição para fazer novos financiamentos imobiliários e elevou o chamado depósito compulsório de outras operações. Mas, ainda assim, os distratos – quando o comprador devolve para a construtora um imóvel comprado na planta – subiram quase 30%, segundo o setor da construção.
Os juros do cartão de crédito também dispararam. Em junho, o BC informou que esses juros atingiram 360% ao ano. Ainda em junho, o governo anunciou o plano agrícola e pecuário para 2015/2016, que também não foi poupado da alta nos juros (subiram 34% em média de 2014 para 2015), mas recebeu mais recursos. No episódio, a ministra da Agricultura Kátia Abreu ganhou a queda de braço com o colega Levy que queria juros para o campo ainda mais elevados.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, adiantou, em agosto, que o juro deveria se manter elevado “por período suficientemente prolongado” e, somente em setembro, diante da quase paralisia da atividade econômica, o processo de alta da taxa Selic foi interrompido, fixando-a em 14,25% ao ano. Foram sete aumentos seguidos. Mas, na última reunião do Copom de 2015, realizada em novembro, os diretores do BC que integram o comitê sinalizaram que podem voltar a subir juros já no início de 2016.
aumento nos juros foi o remédio adotado pelo BC para conter a escalada da inflação, que disparou com o fim do represamento dos reajustes de tarifas públicas: energia elétrica, água, transporte público e preço dos combustíveis.
No final de março, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou que a economia havia encolhido 0,1% em 2014. A inflação não deu trégua em 2015 e, mês a mês, as expectativas de alta dos preços e as projeções para fechamento do ano só aumentaram.
Em maio, economistas apontavam um índice de difusão (usando o jargão econômico) que mostrava a proporção dos produtos com alta de preço em torno de 70%. Ou seja, estavam subindo não só as chamadas tarifas administradas (energia elétrica, combustíveis e passagens de ônibus), que ficaram represadas por muito tempo, mas também o preço do tomate, da cebola, da escola, do plano de saúde e do salão de beleza.
As vendas de eletrodomésticos que, em 2012 chegaram a crescer 11,3%, despencam 7,5% de janeiro a julho como consequência de menos crédito e mais impostos. As lojas ficaram cheias de estoques.
principal companhia estatal do país, a Petrobras, começou o ano enfrentando a troca de comando. Graça Foster, presidente da empresa, e cinco diretores renunciaram em fevereiro, em meio ao escândalo bilionário de corrupção, investigado pela Lava-Jato. Deixaram a empresa em meio às dificuldades de cálculo dos prejuízos com fraudes em contratos de obras e sem a publicação do balanço de 2014.
Aldemir Bendine, que até então presidia o Banco do Brasil, assumiu a presidência da Petrobras. A primeira e principal missão foi concluir e divulgar o balanço patrimonial e financeiro da petroleira de 2014.
Em 22 de abril, o rombo foi finalmente anunciado. As perdas relacionadas ao escândalo de corrupção investigado chegam a R$ 37 bilhões. Pelo menos R$ 6,2 bilhões com o pagamento direto de propinas e outros R$ 30,9 bilhões com a desvalorização de obras que estão no centro da Lava-Jato. No total, a reavaliação de ativos alcançou R$ 44,6 bilhões, o que incluiu também o impacto de mudanças em função da alteração do cenário econômico e da demanda.
Em março, o governo fez o primeiro teste do humor das empresas privadas para tocar obras de infraestrutura no país. Com um deságio menor do que os últimos leilões de rodovias, foi realizado o leilão de concessão da ponte Rio-Niterói. O destaque foi a participação de empresas de pequeno e médio porte.
Na tentativa de reverter as expectativas ruins sobre o crescimento econômico, Dilma Rousseff lançou, em junho, a segunda etapa do PIL (Programa de Investimentos em Logística), mas sem concluir 70% dos investimentos previstos na primeira etapa do programa. Várias obras já previstas anteriormente ou ainda inacabadas foram reempacotadas na nova fase para tentar deslanchar uma agenda de concessões de infraestrutura à iniciativa privada. Os números foram grandiosos: R$ 198 bilhões em investimentos, mas que dependiam de muito mais que boa vontade para virarem realidade.
Em agosto, o governo lançou mais um pacote de concessões, dessa vez na área de energia. O objetivo era criar uma agenda positiva e tentar mostrar ao setor privado que a economia poderia caminhar apesar da crise política, mas de novo foram reempacotados leilões de energia que já estavam previstos em lei.
o longo do primeiro trimestre deste ano, a cotação do dólar subiu. Já em março, superou a barreira dos R$ 3: uma valorização tão forte assim no início de ano não era vista desde 1999, quando o Brasil rompeu com a política de câmbio fixo e adotou o sistema flutuante.Em consequência, as exportações brasileiras que começaram o ano fracas, ganharam um impulso com a elevação da cotação do dólar. Ainda no primeiro trimestre, algumas indústrias, como a automotiva, começaram a apostar no incremento das suas exportações para compensar as perdas com o encalhe de vendas de carros novos no mercado doméstico.
Em abril, a presidente Dilma Rousseff retomou uma aproximação com o colega americano Barack Obama. De olho na abertura de mais mercados compradores dos produtos brasileiros, visitou os Estados Unidos. Em maio, a presidente brasileira recebeu por aqui comitivas da China e, em agosto,foi a vez de a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ser recebida para tocar uma pauta de intenção de investimentos dos dois países.Tudo seguiu no terreno das intenções.
Dois meses depois, em junho, o governo tentou, mais uma vez, passar sinais positivos para o setor produtivo, anunciando o Plano Nacional de Exportação. Mas o pacote foi criticado e recebido com ceticismo pelo setor exportador, já que medidas efetivas de estímulo tributário para as vendas externas ficaram de fora.
Embora os estímulos governamentais aos exportadores tenham ficado só na promessa, a alta do dólar deu uma ajudinha para melhoria do saldo comercial. A aposta em um superavit na balança comercial de pelo menos US$ 15 bilhões começou a ficar mais factível no início do segundo semestre. E, isso, apesar da queda nos preços internacionais dos produtos básicos, as chamadas commodities (como soja, petróleo bruto e minério de ferro).
O dólar caro também ajudou o governo a ajustar outros gastos, que pressionavam o rombo nas contas externas do país. Dados do BC apontam que os brasileiros reduziram drasticamente suas viagens ao exterior. Isso, somado à balança comercial positiva, ajudou a reduzir o chamado deficit em transações correntes (que considera todas as transações comerciais, de serviços e transferência de rendas do Brasil com o exterior).
m março, o mercado de trabalho se rendeu ao freio imposto no ritmo da economia. Os primeiros meses do ano sinalizavam alta do desemprego ao longo do ano e o Banco Central, em seu relatório trimestral de inflação de março, deixou claro que era isso o desejado para que o combate à inflação tivesse efeito.
A indústria desacelerou e, em março, a capacidade instalada atingiu o nível mais baixo desde o início de 2009, auge do impacto da crise econômica internacional.
Para driblar o baixo ritmo da atividade econômica, que derrubou o faturamento no mercado doméstico, muitas indústrias passaram a apostar no mercado externo. Impulsionado pelo dólar mais caro e também por mais acordos setoriais com outros países, a indústria automobilística foi o melhor exemplo de um segmento empresarial que mudou o foco da sua produção para continuar sobrevivendo.
No início de abril, em meio ao cenário de fechamento de vagas de trabalho, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desengavetou um projeto de lei que regulamenta a terceirização de mão de obra em todas as atividades de uma cadeia produtiva. O tema colocou de lados opostos empresários e trabalhadores. O projeto foi aprovado na Câmara do jeito que defendiam os patrões, mas ficou parado no Senado.
Ainda em abril, o empresário Eike Batista, que já foi o homem mais rico do Brasil, foi flagrado em um restaurante considerado popular em Nova York. O empresário, que estaria nos Estados Unidos em busca de novos investidores para seus negócios, era o retrato do país tentando sobreviver à crise.
Mas a vida dos trabalhadores não foi nada fácil em 2015. Entre aqueles que não perderam o emprego, restou se contentar com correções de salário que, em muitos casos, no máximo, cobriram a inflação acumulada. Ficou muito mais difícil conseguir negociar aumentos reais de salários.
Em meados de maio e junho, os dados apontavam para as grandes dificuldades enfrentadas pelas empresas. Os obstáculos impostos pelo ajuste econômico, como o crédito caro e a falta de estímulos tributários, foram agravados pelos reflexos das investigações da Lava-Jato. A operação pegou em cheio os negócios envolvidos com gás e petróleo e as construtoras. Os resultados negativos foram ainda mais longe e atingiram cidades inteiras como Macaé, no interior do Rio de Janeiro, conhecida como Capital do Petróleo.
A prisão de importantes executivos do setor da Construção Civil, como Marcelo Odebrecht e Ricardo Pessoa (UTC), foi apenas um capítulo da derrocada de um setor que vinha puxando a Economia e a geração de emprego. Envolvidos no escândalo de corrupção, Odebrecht e Pessoa aumentaram a crise na construção. Não só trouxeram à tona o risco do endividamento excessivo de empresas do setor, como levantaram questionamento sobre a capacidade de o país tocar grandes obras. Algumas empresas de pequeno porte conseguiram ocupar espaços abertos com a crise nas grandes companhias, mas nem de longe, isso foi suficiente para compensar o estrago gerado no mercado de trabalho. Somou-se a isso a falta de dinheiro público para dar seguimento a programas que vinham estimulando os negócios, como o MCMV (Minha Casa Minha Vida).
A crise no setor da construção fez os bancos ficarem ainda mais retraídos na concessão de crédito, sobretudo, porque os empréstimos imobiliários eram a aposta do setor para elevar as concessões. No apagar das luzes de 2015, o sistema financeiro foi diretamente arrastado para o escândalo da Lava-Jato com a prisão do banqueiro André Esteves, então presidente do banco BTG Pactual.
As luzes de 2015 apagam sem que as crises política e econômica deem sinais de fraqueza. A economia segue com o mesmo dilema da necessidade de ajuste do início do ano. A insegurança e a desconfiança dos consumidores aumentaram, o medo do desemprego segue, a inflação ainda é um problema a ser controlado, a tendência é de alta dos juros e a recessão continua. A presidente enfrenta o debate do impeachment e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não se sabe se continuará ministro em 2016.
m dos fatos que marcaram a área de Cultura no Distrito Federal em 2015 foi o abandono dos espaços culturais. Uma reportagem do Fato Online relatou a situação em que se encontrava o Teatro Nacional e outros espaços, que tiveram seus recursos usados para pagar professores e profissionais da Saúde. O Teatro estava abandonado e servindo de abrigo para moradores de rua.
O ano de 2015 também marcou o aniversário de 55 anos de Brasília. Para comemorar, o Fato Online selecionou versos de um poema de Vinicius de Moraes que nos contam sobre a construção da cidade.
“Foi necessário muito mais que engenho, tenacidade e invenção”, narra Vinicius de Moraes na parte IV da “Sinfonia da Alvorada”. “Foi necessário 1 milhão de metros cúbicos de concreto”, conta o poeta. “E foram necessárias 100 mil toneladas de ferro redondo, e foram necessários milhares e milhares de sacos de cimento, e 500 mil metros cúbicos de areia, e 2 mil quilômetros de fios.”
Neste ano, também, o guitarrista brasiliense Pedro Martins, de 22 anos, foi o grande vencedor da competição de guitarras do Montreux Jazz Festival, na Suíça. Pedrinho, como é conhecido na cidade, levou o primeiro lugar em duas categorias: júri e público.
Outros músicos brasilienses tiveram o que comemorar em 2015. A banda brasiliense Scalene alcançou o segundo lugar no reality show musical Superstar e ficou nacionalmente conhecida. O episódio marcou o resgate do rock na Capital. Outras bandas jovens de rock também começaram a se destacar no Brasil, como Dona Cislene.
O ano também foi bom para o cinema brasiliense. O filme “O Último Cine Drive-In”, do diretor Iberê Carvalho, ganhou quatro prêmios no Festival de Cinema de Gramado e foi exibido em 30 salas de cinema do país. Sua pré-estreia no Cine Drive-In, local que serviu de inspiração e onde foram gravadas algumas cenas, lotou.
m dos fatos que mais marcou o cotidiano dos brasilienses em 2015 foi a derrubada de casas em diversos pontos do Distrito Federal, sobretudo de cercas e muros de mansões no Lago Sul.
O anúncio de desocupação da orla do Lago Paranoá, feito pela Agefis (Agência de Fiscalização do DF) em agosto, causou discussão entre sociedade, governo e moradores. Após muita troca pública de farpas entre a associação de moradores do Lago Sul e outras representações sociais, a derrubada finalmente começou. A limpeza da área para liberar o uso pela população, no entanto, começou apenas em dezembro.
Outra polêmica que inflamou discursos foi a construção do Memorial Presidente João Goulart no Eixo Monumental. O MPDF (Ministério Público do Distrito Federal) recomendou que a Secretaria de Cultura anulasse o convênio que havia cedido o lote para a construção do memorial. Até a filha de Lúcio Costa entrou na discussão, posicionando-se contra.
A população também se dividiu com relação à mudança de nome da Ponte Costa e Silva, em Brasília, que acabou com o nome alterado para Ponte Honestino Guimarães.
Outra notícia que mereceu destaque foi a Operação Dubai, que investigou o cartel dos postos de combustível no DF. O Fato Online noticiou que as margens de lucro dos postos de Brasília eram as maiores do país e que o cartel operava desde 1994. Após a operação, voltou à tona a discussão sobre permitir postos em supermercados, para ampliar a concorrência. Um projeto de lei foi enviado pelo Executivo à Câmara Legislativa, mas não foi votado ainda.
Também foi alvo de discussão entre os brasilienses a entrada do aplicativo Uber no DF. Em julho, um projeto de lei que dificultava a vida do aplicativo no DF foi aprovado na Câmara Legislativa. O PL foi vetado pelo governador Rodrigo Rollemberg, que criou um grupo de trabalho para estudar a situação do Uber em Brasília. No final do segundo semestre, o grupo apresentou a regulamentação, que propôs barrar a categoria mais econômica do serviço, o Uber X. O projeto seria discutido na CLDF apenas em dezembro, após muitos atrasos.
Outras notícias foram destaque no Fato Online no ano. Um homem que havia desaparecido há seis anos no Rio de Janeiro foi encontrado na região do Aeroporto de Brasília com R$ 4,5 mil em espécie no bolso.
A reportagem também noticiou que o aeroporto de Brasília havia se tornado um importante hub de tráfico internacional de drogas. E que a simples venda de marmitas no Lago Sul havia se tornado uma polêmica entre vendedores e moradores.
ano de 2015 na área da Saúde foi movimentado. Entre os destaques, estão o decreto de situação de emergência logo no início do ano, casos de superbactéria nos hospitais públicos, suspeita de ebola, a queda do primeiro secretário, falta de medicamentos nas farmácias de alto custo e as greves prolongadas de médicos, enfermeiros e auxiliares, que pediam o pagamento dos reajustes salariais.
Em janeiro, o primeiro desafio do governador Rodrigo Rollemberg veio à tona. O então secretário João Batista de Sousa decretou situação de emergência. Com medicamentos em falta, a secretaria passou a comprá-los sem licitação.
Em seguida, o cenário de greve e caos que marcaria o ano – não apenas na Saúde – começou a se anunciar. No dia 2 de março, os profissionais ligados ao Sindsaúde (Sindicato dos Empregados em Saúde) e ao Sindmédico (Sindicato dos Médicos do Distrito Federal) já se mobilizavam em assembleias para receber os reajustes aprovados na gestão Agnelo Queiroz.
A situação nada confortável da Saúde atraiu a fiscalização. Ao mesmo tempo em que o Tribunal de Contas do DF diz ter evitado a compra de medicamentos com até 8.000% de sobrepreço, a Câmara Legislativa começou a fazer vistorias pelos hospitais públicos e chegou a ensaiar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar contratos da pasta. Mas a ideia não saiu do papel.
No meio do ano, um novo susto para a população. A KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase), o Enterococo e outras superbactérias se alastraram pelos hospitais da rede pública de saúde do Distrito Federal. Foram encontrados casos no HRT (Hospital Regional de Taguatinga), depois na unidade do Guará, em Santa Maria e Sobradinho.
Na ocasião, o diretor do Hospital Regional de Taguatinga chegou a dizer que as superbactérias tinham vindo para ficar. Diante do temor, o secretário de Saúde foi convocado a dar explicações na CLDF (Câmara Legislativa do Distrito Federal).
Na CLDF, algumas leis foram aprovadas na área da Saúde. Uma delas garante aos idosos internados na rede pública uma vaga na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em caso de necessidade. E outra autoriza hospitais a coletar sangue dos cordões umbilicais para prevenir doenças como leucemia, anemias graves e congênitas.
No balanço geral, também houve notícias positivas para a área. No primeiro trimestre, o programa de Internação Familiar, que atende mais de mil pessoas no DF, ganhou 30 veículos novos. Também foi anunciada a ampliação do Hospital da Criança de Brasília, referência em oncologia infantil, com mais 182 leitos para a unidade. Outra notícia boa foi a posse de mais de 300 servidores entre pediatras, clínicos, farmacêuticos e enfermeiras.
O Fato Online também foi além da notícia e mostrou, em reportagens diferenciadas, que doadores de medula óssea podem salvar a vida de quem sofre com leucemia e outras doenças do sangue. Mostrou também o drama dos dependentes de drogas no Distrito Federal e os riscos à saúde pública trazidos pelos carros abandonados na Asa Sul. E a reportagem do Fato Online também flagrou uma mulher dando à luz em frente ao Hospital de Base.
O Portal também convocou o então secretário da pasta, João Batista de Sousa, para dar explicações sobre a saúde pública no DF, que estava caótica. O decreto de situação de emergência havia sido renovado.
Poucos dias após conceder entrevista ao Fato Online, o secretário de Saúde pede exoneração e deixa o cargo. No dia seguinte à queda do secretário de Saúde, o governador anuncia o nome de Fábio Gondim para assumir a pasta. Mal assume o cargo, o novo secretário enfrenta acusações quando era secretário de planejamento no Maranhão.
Uma de suas ações foi publicar um decreto que previa a descentralização dos recursos da secretaria de Saúde para dar mais autonomia aos gestores dos hospitais. O deficit da pasta, segundo Gondim, era de R$ 3,9 milhões para o ano. Frente à falta de dinheiro, o governo chegou até a estudar a venda de imóveis para remanejar recursos para a Saúde.
No terceiro trimestre, a situação começou a piorar. No último dia de agosto, o GDF (Governo do Distrito Federal) atrasou o pagamento das horas extras dos servidores. Em seguida, anunciou que pagaria os atrasados dos fornecedores da saúde somente em julho de 2016.
No final de setembro, a greve anunciada finalmente eclode. Para parte dos servidores, a greve se encerrou no fim de outubro. Técnicos e auxiliares de enfermagem seguiram parados até 5 de novembro. Os médicos, no entanto, só voltaram ao trabalho no dia 12 de novembro.
primeiro ano de Rodrigo Rollemberg como governador do Distrito Federal foi marcado pela crise. O governo ultrapassou o limite de gastos com pessoal estabelecido na LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), enfrentou a ira dos servidores que queriam seus prometidos reajustes e teve que anunciar medidas amargas de austeridade, como a fusão de algumas secretarias. Alguns dos projetos de lei que previam aumento de receita, enviados pelo Executivo à CLDF (Câmara Legislativa do Distrito Federal), custaram a ser aprovados ou ficaram pelo caminho. E Rollemberg ainda teve que contornar o rompimento com a presidente da Câmara, Celina Leão, e a saída de seu testa de ferro Hélio Doyle da equipe, além de perder outros secretários.
O ano começou com a polêmica redução das administrações regionais. Para economizar R$ 1 milhão – segundo o próprio governo –, o Executivo elaborou um projeto que extinguiria oito administrações regionais, que passariam a ser administradas pelas demais, dependendo da posição geográfica em que se encontram. O projeto dividiu a opinião de políticos e da população e, após muitas idas e vindas, em abril o GDF (Governo do Distrito Federal) retirou de vez o projeto da pauta.
Esse não foi o único revés enfrentado pelo governador na Câmara Legislativa. Em junho, a presidente da casa, Celina Leão (PDT), anunciou sua saída da base. Em um pronunciamento, a deputada falou de seu descontentamento com algumas atitudes do governador, principalmente pela manutenção de vários petistas em posições importantes do governo do GDF.
O rompimento de Celina e o acirramento na relação com o PDT fez o homem forte do governo Rollemberg, o então secretário-chefe da Casa Civil, Hélio Doyle, pedir a sua exoneração do cargo. Hélio saiu atirando em deputados da base, em Celina e até no senador Cristovam Buarque (PDT). Sérgio Sampaio assumiu a pasta.
No campo financeiro, a situação foi ainda mais difícil. Com o sinal vermelho para mais gastos, em função do estouro do limite da LRF, o GDF encaminhou à CLDF uma série de projetos de lei para aumentar a receita e economizar recursos. Alguns, que impactariam no bolso dos contribuintes, como o aumento do IPTU e da Taxa de Limpeza Pública, criaram polêmica. Outros só foram aprovados nas últimas semanas do ano.
A negociação para aprovação dos projetos foi turbulenta. Durante reunião entre distritais e o governador, em maio deste ano, alguns grampos foram espalhados pelo local da reunião, e o áudio foi vazado. Os deputados pediram a punição de quem vazou o conteúdo da negociação.
Além de Doyle, o governo perdeu outros secretários ao longo do ano. Saúde, Fazenda e Mobilidade estão entre as pastas que trocaram seus titulares. A dança das cadeiras definitiva aconteceu no segundo semestre, com o anúncio de redução de 24 para 17 no número de secretarias.
Uma das mudanças que mais chamou a atenção foi a vinda do deputado distrital Joe Valle para o Executivo. Ele assumiu a superpasta do Trabalho, Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.
Após a redução das pastas, mais um secretario caiu. Em função da atuação truculenta da Polícia Militar contra um protesto de professores da rede pública, o então titular da Segurança, Arthur Trindade, pediu demissão.
Na Câmara Legislativa, o ano também não foi tranquilo. No dia 14 de maio, foi instalada a CPI do Transporte, com o objetivo de investigar irregularidades no sistema de transporte público do Distrito Federal durante a gestão do ex-governador Agnelo Queiroz. A Câmara também votou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que teve quase 160 emendas de parlamentares. A LDO definiu, ainda, como diretriz a ser cumprida até o fim do primeiro semestre de 2016, as contratações de profissionais para pelo menos duas áreas: Saúde e Educação, que juntas deverão abrir 5.467 vagas.
Na economia, mais sobressaltos. O Fato Online mostrou que Brasília enfrentou o pior momento de seu mercado imobiliário em duas décadas. Em meio à crise econômica no país, 2015 já acumula mais de 1 mil lojas fechadas e cerca de 2 mil demissões no comércio de Brasília, segundo estimativas de representantes do setor.
Também merece destaque a Operação Dubai, da Polícia Federal, que investigou o cartel dos postos de gasolina no DF. O Fato Online foi a fundo na investigação e mostrou que o cartel operava desde 1994.
área da mobilidade no Distrito Federal foi marcada por promessas em 2015, sobretudo em relação ao Metrô. Mas nenhuma delas ainda saiu do papel. O ano também foi marcado pelo debate sobre a chegada do Uber no DF e pelas greves dos rodoviários, que deixaram milhares de pessoas sem transporte.
Logo no início do ano, foi anunciado que a expansão do metrô na Asa Norte poderia virar realidade no ano que vem. O governo, inclusive, sancionou uma lei que autorizava empréstimos para obras do metrô e para a implantação do VLT. No entanto, apenas em dezembro o Ministério das Cidades assinaria o contrato liberando verbas para os estudos de implantação.
Em julho, a batalha táxis versus Uber começou. Um projeto de lei que dificultava a vida do aplicativo no DF foi aprovado na Câmara Legislativa. O PL foi vetado pelo governador Rodrigo Rollemberg, que criou um grupo de trabalho para estudar a situação do Uber em Brasília. No final do segundo semestre, o grupo apresentou a regulamentação, que propôs barrar a categoria mais econômica do serviço, o Uber X. O projeto seria discutido na CLDF apenas em dezembro, após muitos atrasos.
As greves dos rodoviários também foram destaque em 2015. O então secretário de Mobilidade, Carlos Tomé, informou que reconhecia os problemas no transporte de Brasília e confessou que a solução demoraria. As greves prejudicaram o trânsito do DF, que já era difícil em horários de pico. O DF tem uma frota de 1,5 milhão de carros.
Outro destaque na pasta foi a saída de Tomé, anunciada durante a reforma administrativa. Em seu lugar, entrou o ex-secretário de Relações Institucionais e ex-presidente do PSB local, Marcos Dantas.
vida dos estudantes da rede pública de ensino do DF não foi nada fácil em 2015. Pouco antes de completar dois meses no cargo, o governador Rodrigo Rollemberg já começou a enfrentar problemas com os professores da rede pública. Já no mês de fevereiro, os professores entraram em greve. Começava aí a busca frenética do GDF em busca de recursos para pagar os aumentos salariais aprovados na gestão de Agnelo Queiroz.
Ainda naquele mês, o secretário de Educação foi chamado à Câmara Legislativa para dar explicações sobre as dívidas da Pasta encontradas pela gestão Rollemberg. Segundo o secretário, o total era de R$ 268,9 milhões em dívidas.
Mesmo sem acordo, os professores resolveram colocar fim à greve no final de fevereiro. Mas, no início de março, o Fato Online informou que foi a vez de as merendeiras cruzarem os braços e entrarem em greve. Em março, elas cobravam os salários de dezembro, janeiro e fevereiro, além de férias, vale-alimentação e transporte. Mas a greve durou poucos dias.
Nas creches, a situação também não era das melhores. Em abril, moradores de rua invadiram uma creche localizada na 611 Norte, onde a reportagem foi recebida a pedradas pelos invasores. Pouco depois de noticiada pelo portal, o GDF retomou o controle do espaço.
Em julho, o governo anunciou que o deficit de vagas era de 30 mil. A notícia boa veio só em agosto, quando o GDF anunciou a inauguração de seis creches no DF. Ainda assim, o deficit continuou.
Problemas também na Escola de Música, onde os professores protestaram contra o diretor da instituição. No segundo semestre, Rollemberg visitou a instituição e prometeu reformas. Também foram registrados problemas na EMMP (Escola Meninos e Meninas do Parque), que enfrentou uma crise estrutural em suas dependências, e na primeira escola de Brasília, o Caseb, que estava em ruínas e necessitava urgentemente de reformas.
Um dos destaques no ano na área de Educação foi a aprovação do Plano Distrital de Educação, que dividiu opiniões. Depois de aprovado em maio pelo distritais, em meados de julho o governo lançou o plano. Com 21 metas, o plano define 400 estratégias que deverão ser utilizadas para a implantação dessas metas até 2024. Por força da bancada evangélica na Câmara Legislativa, o plano não incluiu a questão de gênero.
No segundo semestre, a greve veio mais pesada. No final de outubro, uma manifestação dos professores que fechou o trânsito terminou em confusão com a Polícia Militar. O episódio culminou no pedido de demissão do secretário de Segurança Pública, Arthur Trindade.
Polícia Federal, com apoio dos promotores de Justiça do Gaeco/MPDFT (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), realizou na terça-feira, dia 24 de novembro, a Operação Dubai com o objetivo de desarticular organização criminosa responsável por um cartel no setor de distribuição e revenda de combustíveis no Distrito Federal e no Entorno. O prejuízo provocado pelo cartel ao consumidor é estimado em R$ 1 bilhão por ano.
Somente a principal rede investigada vendia R$ 1,1 milhão de litros de combustível por dia, segundo dados da força-tarefa que realizou a operação, e lucrava R$ 800 mil diários com o esquema, segundo a PF.
Série de reportagens do Fato Online resgata nomes que elevaram o conceito esporte da capital do país, mudaram a vida de muitas crianças e ainda revelaram talentos como Oscar Schmidt, Caio Bonfim, Tande e Hugo Parisi
Herói, segundo o dicionário, é um autor de grandes feitos. E, na história do esporte do Distrito Federal, nossa equipe descobriu que muita gente se encaixa nessa definição dentro e fora dos campos, das quadras, das piscinas e das pistas. Ao longo de 2015, o Fato Online mostrou pessoas que podem ser consideradas “Heróis do Esporte”, gente que, quase sem nenhuma estrutura, descobre talentos e muda vidas. Professores que, mesmo sem incentivo financeiro, conseguem por meio da prática esportiva, formar atletas e, principalmente, cidadãos.
Em uma série de reportagens, o Fato Online deixou claro como o esporte vai além do exercício físico ou da competição pura e simples. Em diferentes modalidades, o respeito, a disciplina e a força de vontade são ensinadas naturalmente. Os heróis do esporte brasiliense são incontáveis, muitos nem são conhecidos do público. Atuam em projetos sociais que afastam as crianças dos perigos das ruas e das drogas, orientam, aconselham e acolhem nos momentos mais difíceis.
O projeto social de Ceilândia atende a 40 meninos e meninas de 8 a 14 anos, com renda familiar de até três salários mínimos, vulnerabilidade social e estudantes de escolas públicas. Três vezes por semana, eles recebem aulas de triatlo, modalidade que une natação, corrida e ciclismo.
Mas, se as modalidades são ensinadas nas horas em que crianças e adolescentes passam no local, o aprendizado é levado para a vida. “Tenho relatos de algumas mães que afirmam que os filhos melhoraram na escola, melhoraram o comportamento, que estão mais disciplinados”, contou Lidiane Gomes, profissional de educação física responsável pelo projeto desde a sua fundação, há quatro anos.
O triatleta Leandro Macedo, maior referência do esporte no Brasil, esteve com a reportagem no projeto Sesc Triathlon. Na ocasião, ele conversou com as crianças e também se emocionou. Leandro destacou a necessidade de, antes de qualquer coisa, todos eles seguirem mais de perto os bons exemplos e continuarem os estudos.
“O triatlo, assim como outros esportes, é um grande meio para inclusão, desenvolvimento, aprendizagem. O esporte ensina muito sobre cidadania, sobre como passar pelas frustrações, sucesso, ter respeito, perseverança e determinação”, destacou.
Depois da visita, foi possível ver que mudar a realidade dessas crianças é mesmo o principal objetivo do projeto. “Meu papel aqui vai muito além de treinar essas crianças, sou meio psicóloga também. Você tem que entender a realidade deles, tem pai ali que está separando, brigando, cometendo crimes, você tem que sentar e conversar. Tem horas que preciso ser bem rígida”, enfatizou a professora Lidiane.
O Fato Online contou ainda a história do IJC (Instituto Joaquim Cruz) e mostrou como o ex-corredor, medalha de ouro nas Olimpíadas de Los Angeles (1984), apoiado por outros esportistas, está ajudando crianças carentes e formando novos profissionais do atletismo. Hoje, o Clube dos DescalSOS, escrito assim mesmo, com SOS de socorro, atende 120 crianças e adolescentes no Recanto das Emas, em Ceilândia e em Águas Lindas, cidade goiana no Entorno do Distrito Federal.
Histórias de superação e amor pelo esporte no projeto Clube dos DescalSOS são inúmeras. Há jovens que deixaram regiões distantes do DF para realizar o sonho de competir. Alguns vieram da Bahia ou até mesmo do interior de Goiás, em busca de treinamento. Tem também meninas que encontraram no arremesso de peso, ironicamente, uma maneira jogar os quilinhos extras para longe, emagrecer e garantir uma vida mais saudável.
No meio da poeira onde a criançada treina, há ainda atletas mais que especiais. O IJC atende também três jovens com deficiência. Uma menina cega corre acompanhada de um guia, e dois colegas têm paralisia cerebral. Um deles é Pedro Martins. O atleta conta emocionado como as tardes que passa no Recanto das Emas faz toda a diferença na vida dele. “Aqui é o melhor lugar que tem. Quando eu entrei no projeto, em 2009, as pessoas me aceitaram, o carinho deles por mim é grande demais. Aqui eu me sinto igual a todo mundo”, desabafou.
Com tantos casos de sucesso, o IJC mostra que mais do que a estrutura física, o que vale é a vontade de fazer a diferença. “Eu costumo falar para os meus garotos o seguinte: ‘Não olhe para o espaço físico, olhe para o conteúdo aplicado’. Porque, na verdade, nós não devemos nada para ninguém, aqui nós já formamos recordistas brasileiros, campeões distritais. Eu nem sei quantos eu tenho aqui. O espaço físico não é ideal, mas dá condição de eles treinarem”, garante o treinador Manoel Evaristo.
Caso, é assim que o Centro de Atletismo de Sobradinho é conhecido no Distrito Federal e no resto do país. A palavra cai bem quando se ouve a explicação do fundador, João Sena. Foi "criando caso" para conseguir dinheiro e apoio ao projeto que o professor de Educação Física fundou o centro há 32 anos. Hoje, o caso de amor da cidade com o atletismo é notório.
O local já revelou a ex-corredora de longa distância Carmem de Oliveira, desde 1995 recordista sul-americana da maratona e primeira brasileira a vencer a São Silvestre; o marchador Caio Bonfim, filho de João Sena e medalhista de bronze dos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015 e outros tantos campeões e atletas olímpicos. "Só neste ano, nós já ganhamos 22 medalhas em campeonatos nacionais. Nosso objetivo principal é fazer com que o atleta vá bem, ganhe medalha e o Bolsa-Atleta (benefício social) para poder se manter", explica João Sena.
Os atletas, hoje cerca de 150, chegam ao Centro de Atletismo por meio da propaganda boca a boca, mas João e os demais professores selecionam ainda nas escolas públicas do DF aquelas crianças que demonstram ter talento. "O que essas crianças precisam ter na verdade é força de vontade, eu não mando ninguém embora, a não ser que seja por indisciplina. Aqueles que querem estar aqui têm espaço e apoio", garante.
Mesmo com pouca estrutura, o Caso coleciona talentos. Do projeto, já saíram quatro atletas olímpicos, nove campeões sul-americanos, além de 25 campeões brasileiros. "Se eu tiver 30 atletas, vai sair um campeão brasileiro. Se isso é sorte, eu não sei, prefiro dizer que Sobradinho é uma terra de talentos. Mas, o que eu vejo mesmo, é que quem trabalha sempre tem um campeão. O segredo é trabalhar", ensina João. E trabalho por ali não falta. Os treinos ocorrem pela manhã, à tarde e à noite, de segunda a sexta-feira.
Dizem que muita coisa cabe em um abraço. Há até músicas que mensuram o tamanho de cada um. Se realmente existe uma medida para esse gesto de carinho, no Abrasso do técnico Giovani Casilo cabem mais de 2.500 atletas que ele formou ao longo da carreira. Com 60 anos de história nos saltos ornamentais, o ex-atleta e considerado por muitos o "pai" do esporte no Brasil, é o fundador da Abrasso (Associação Brasiliense de Saltos Ornamentais). No currículo, a "descoberta" de 50 campeões brasileiros e sul-americanos, além de quatro atletas olímpicos.
Atualmente, Casilo ensina cerca de 80 crianças, a partir dos 6 anos, por meio de um projeto do GDF (Governo do Distrito Federal) e também atende 20 meninos e meninas, no antigo Defer (Departamento de Educação Física, Esportes e Educação), que pagam R$ 80 mensais. "Minha esperança está nesses pequenos, não quero mais me envolver com os adultos", sentencia.
Emocionado, ele tentou explicar a paixão pelo esporte. “Sigo aqui porque a minha droga, o meu vício, são os saltos ornamentais. Eu não fumei, mas eu 'fumo' os saltos ornamentais, não consigo largar. Eu não sei fazer mais nada. Eu fico até emocionado. A gente passa a vida dedicado a alguma coisa que a gente gosta, quando a gente envolve amor por algo, a gente se emociona", declarou comovido.
Atleta da seleção brasileira e buscando o índice para a quarta olimpíada da carreira, o brasiliense Hugo Parisi é umas das "crias" de Giovani Casilo. E sobra gratidão pelo treinador. "Antes de mais nada, o Giovani é uma peça essencial dentro dos saltos ornamentais. Foi ele que trouxe a modalidade para Brasília. Ele foi um dos meus primeiros técnicos e, se eu tenho o gosto pelo esporte, foi por conta dele. Serei eternamente grato por isso", declarou o atleta.
Enquanto muitos profissionais aguardam ansiosamente pelo momento da aposentadoria, Jerônimo Perdomo, aos 67 anos, não quer nem pensar nisso. “Enquanto Deus permitir, eu vou estar trabalhando, não tenho intenção de parar, nem passa pela minha cabeça", enfatiza o treinador. O Fato Online contou também a história do técnico que, há 40 anos, vive para o voleibol de Brasília.
Jerônimo não consegue nem contabilizar quantos atletas formou durante essas décadas, mas orgulha-se de já ter colocado mais de 300 jogadores na seleção brasileira principal e nas de base do Brasil. “Todo ano tem alguém convocado para a seleção. Eu até tenho dificuldades de lembrar de todos eles”, explica o treinador responsável pela formação do campeão olímpico e mundial Tande, além do oposto Theo Lopes, parte do atual elenco da seleção brasileira.
Atualmente, ele ensina cerca de 40 atletas na escola de vôlei que leva o seu nome, em parceria com a Apcef (Associação do Pessoal da Caixa Econômica do Distrito Federal). É na Apcef que os jogadores de 9 a 27 anos treinam, de segunda a sexta-feira. Quem pode, paga uma taxa de 40 reais mensais. Metade dos alunos são de baixa renda e, por isso, treinam gratuitamente com o professor.
Procurado pela reportagem, Tande falou com muito carinho do ex-treinador. “Ele é um dos técnicos que mais formam atletas e homens. Me ajudou a acreditar no meu potencial, me dando liberdade para criar possibilidades e aprender muito sobre sistema tático, técnico e me tornar um homem confiante. Sempre fez tudo com muito amor”, contou o ex-jogador. Segundo o campeão olímpico, Jerônimo Perdomo foi um “paizão” para ele. “Agradeço muito ao Jerônimo. Se hoje estou aqui podendo ser uma referência no meu esporte, é graças a ele”, completou.
“Eu me orgulho de ter ajudado a construir a vida de muitas pessoas. Existe um grande significado nisso tudo. Formei mais do que atletas, formei pessoas. Quando você ensina uma pessoa a acreditar nela, tudo pode acontecer. É um trabalho árduo, mas vale a pena”, concluiu Jerônimo.
“Mas porque você veio falar comigo? Quem disse que eu sou importante?", perguntou o técnico de basquete Laurindo Miura ao receber a reportagem, no meio da tarde de uma quinta-feira, no ginásio da Associação dos Funcionários da Companhia Energética de Brasília, na 904 Sul. A simplicidade latente do treinador de 63 anos contrasta com a maneira como ele é admirado e reconhecido pelos alunos: mestre Miura.
O Fato Online contou a história do treinador que descobriu e lapidou o talento do maior jogador de basquete do Brasil de todos os tempos: Oscar Schmidt. Por telefone, o "Mão Santa", imortalizado no Hall da Fama do Basquete, em 2013, respondeu o que a humildade do técnico não permitiu. “Ele foi muito importante no início da minha carreira. Não seria quem sou, se não fosse ele."
“O Oscar começou comigo em 1972, aos 14 anos, lá no Vizinhança”, lembra Miura. O ex-atleta também recorda os momentos ao lado do primeiro treinador. “Ele treinava só comigo no período da tarde. E eu era muito desengonçado. Ele botava pedrinhas na quadra e eu tinha que quicar a bola com uma mão e pegar as pedras com a outra para desenvolver habilidades”, lembrou de forma bem-humorada o ex-jogador.
Há seis anos ajudando a equipe sub-22 e muitas vezes o time principal do UniCeub/BRB/Brasília, Laurindo Miura começou no esporte há quase 50 anos. Jogou algum tempo, mas logo foi convidado para atuar como treinador. Ainda jovem, já era capaz de perceber o talento dos outros e fazia de tudo para aprimorá-lo. A carreira foi interrompida por um período devido a um acidente de carro, em 1981, que o deixou sem andar. “Para me sentir mais útil e não ficar ocioso lá em casa eu venho para cá. O basquete tem sido a minha razão de viver, porque pelo acidente eu não poderia fazer outra coisa. O basquete fez muito por mim”, declarou.
Perguntado se sente orgulho pelo número de jogadores de basquete que descobriu, Laurindo vai além. “Da mesma forma que passaram por mim pessoas que se transformaram em jogadores profissionais, outros passaram e hoje são cidadãos; são juízes, professores. Talvez com eles eu me sinta ainda mais satisfeito, porque foi um encaminhamento que nós demos por meio do esporte. A gente se preocupa também com a formação do ser humano”, concluiu.
O tênis voltou a ter um brasileiro no topo do ranking mundial. Depois de Maria Ester Bueno, em 1959/1960/1964/1966, e de Gustavo Kuerten, em 2000, 2015 foi o ano de Marcelo Melo, que fecha a temporada como o melhor duplista do mundo.
Foi um ano memorável para o mineiro de Belo Horizonte, que completou 32 anos em setembro. Depois de chegar às semifinais do Aberto da Austrália e dos três primeiros Master 1000 da temporada, Melo conquistou, em junho, o primeiro Grand Slam da carreira.
Jogando em parceria com o croata Ivan Dodig, Melo venceu o tradicional Aberto da França, no complexo de Roland Garros (Paris), derrotando na final a dupla dos irmãos norte-americanos Bob e Myke Brian, que dominava os torneios de duplas desde 2003.
Como Dodig precisou disputar torneios de simples para melhorar sua situação no ranking mundial, Melo passou a jogar com o sul-africano Raven Klaasen. E os resultados continuaram aparecendo: venceu o ATP 500 de Tóquio e, na sequência, o Master 1000 de Xangai, o ATP 500 de Viena (pela terceira vez consecutiva) e o Master 1000 de Paris. Foi o suficiente para desbancar a hegemonia dos irmãos Brian, que durava desde 2003.
Líder do ranking, Marcelo Melo se consolida como uma das grandes esperanças de medalha para o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Seu parceiro na Rio-2016 será o também mineiro Bruno Soares, atual número 21 do mundo (foi 3° em 2013). Mas o ano não foi tão bom assim para ele.
Bruno Soares, que forma dupla com o austríaco Alexander Peya, conquistou o primeiro título do ano em maio, no ATP 250 de Munique (Alemanha). Depois, em novembro, a dupla faturou o ATP 500 de Basileia (Suíça). Mas o desempenho na Copa Davis, com Marcelo Melo como parceiro, acendeu o sinal de alerta no time.
Em Florianópolis, em setembro, a dupla brasileira perdeu por 3 sets a 1 para a dupla da Croácia (com direito a um pneu: 0 x 6 no primeiro set) e complicou a classificação do Brasil para permanecer no Grupo Mundial. Em 2016, o país volta a disputar o Zonal Sul-Americano.
Para a Olimpíada, o Brasil ainda conta com dois tenistas entre os 50 melhores do mundo. No masculino, nosso número 1 (30º do ranking mundial) de simples é Thomaz Bellucci. Depois de um primeiro semestre fraco, Bellucci começou a recuperar posições no ranking ao vencer seu primeiro (e único) torneio do ano em Genebra, na classe ATP 250. Foi o primeiro título de Bellucci depois de quase três anos.
No feminino, a estrela da vez no tênis brasileiro é Teliana Pereira que, em agosto, conquistou os dois primeiros títulos da carreira profissional em torneios do circuito mundial. O primeiro, no Aberto de Bogotá, na Colômbia, em abril.
Embalada e galgando posições no ranking mundial (ela começou o ano na 130ª colocação na WTA), Teliana se consagrou em casa. Jogando o Aberto de Florianópolis, a pernambucana de 27 anos conquistou o segundo título dela ao bater, na final, a alemã Annika Beck. A vitória levou Teliana à 48ª posição do ranking. Desde 1988, com Niege Dias, uma brasileira não figurava no top 50 da WTA.
Teliana e Bellucci devem ser os representantes do Brasil na chave de simples do tênis olímpico, no Rio de Janeiro.
Nas pistas do Brasil e do mundo, 2015 foi um ano de muita disputa por posições tanto sobre duas quanto sobre quatro rodas. Mas a disputa entre pilotos da mesma equipe marcou as temporadas da Fórmula 1 e da Moto GP.
Nas duas rodas, o ano foi sensacional para a Yamaha. Depois de duas temporadas de hegemonia da Honda e de seu jovem supertalento espanhol Marc Marquez, 2015 marcou a troca da coroa entre es arquirrivais japonesas. Dois experientes pilotos da Yamaha brigaram até o fim pelo título mundial: o multicampeão Valentino Rossi (Itália) e o veterano Jorge Lorenzo (Espanha), detentor até então de dois títulos mundiais.
Rossi chegou à última corrida, em Valência (Espanha), na liderança da competição, mas uma bobagem cometida na corrida anterior, na Malásia, praticamente selou o destino do italiano na competição. O heptacampeão mundial, naquela etapa, tirou o espanhol Márc Marquez da corrida ao chutá-lo quando tentava fazer uma ultrapassagem. Um gesto que pegou muito mal para Rossi. Como punição, ele teve que largar em último na etapa que decidiria o campeonato. Uma punição fatal.
Em Valência, mesmo largando na última colocação, Rossi conseguiu fazer uma incrível prova de recuperação e acabou cruzando a linha de chegada em quinto. Pouco para evitar a sétima vitória de Jorge Lorenzo no ano, com uma corrida impecável, na qual liderou de ponta a ponta e garantiu o título mundial.
Lewis Hamilton e Nico Rosberg dominaram a temporada 2015 de Fórmula 1. Companheiros de equipe na Mercedes, os dois praticamente não tiveram adversários ao longo do ano. O tricampeonato mundial de Lewis Hamilton foi confirmado com a vitória no GP dos Estados Unidos, em outubro, a décima na temporada. Nico, por sua vez, venceu seis provas e terminou como vice-campeão.
O único a arranhar a supremacia da Mercedes foi Sebastian Vettel, da Ferrari. Ao vencer três corridas, o alemão reacendeu a esperança dos ferraristas para desbancar a dupla Hamilton/Rosberg na próxima temporada.
Para os brasileiros, foi um ano regular. O estreante Felipe Nasr, da Sauber, terminou na frente do companheiro de equipe Marcus Ericsson, na 13ª posição, tendo como melhores resultados um 5º lugar na Austrália e um 6º no GP da Rússia. Felipe Massa, da Willians, em 6º, ficou atrás do parceiro Valtteri Bottas (5º). Pelo menos, subiu ao pódio duas vezes neste ano, com os terceiros lugares nos GPs da Áustria e da Itália.
Um piloto de sobrenome Senna serviu de escudeiro para que um Piquet conquistasse um título histórico para o automobilismo brasileiro. Sobrinho de Ayrton, Bruno Senna barrou o avanço do Suíço Sebastien Buemi nas últimas voltas do GP de Londres, que fechou a temporada da nova Fórmula E, e ajudou Nelsinho Piquet a ser o primeiro campeão da categoria de monopostos elétricos, que estreou neste ano no calendário internacional da FIA.
Nelsinho ficou marcado no automobilismo por forjar um acidente no GP de Cingapura de Fórmula 1, em 2008, para beneficiar seu companheiro de equipe na Renault, Fernando Alonso, que seria o campeão daquela temporada. Por ter denunciado a manobra, aconselhado pelo pai, Nelson Piquet, Nelsinho evitou que fosse banido da Fórmula 1, como aconteceu com o chefe da equipe, Flavio Briatore.
Na principal categoria do automobilismo brasileiro, Marcos Gomes conquistou seu primeiro título da Stock Car na última corrida da temporada, em Interlagos. O piloto superou uma batida na primeira volta e torceu para Cacá Bueno, único que poderia tirar-lhe o título, não terminar entre os primeiros colocados. E foi campeão, mesmo terminando a prova na 23ª colocação, duas posições atrás de Cacá.
O líder do campeonato entrou na etapa com 242 pontos, contra 210 do rival Cacá. E, mesmo com pontuação dobrada em jogo, buscou o troféu da temporada sem somar um ponto sequer na última corrida do ano.
A temporada foi marcada pelo impressionante acidente da etapa de Curitiba, em agosto. A batida teve início na nona volta, quando Thiago Camilo teve problemas no carro e vinha lento na reta. Ele foi atingido fortemente na traseira por Rafael Matos e, em seguida por Felipe Fraga. Vários carros acabaram sendo danificados por conta da batida. Felipe Fraga e Thiago Camilo foram levados de ambulância para o hospital, mas foram liberados no dia seguinte.
Com a grande reforma paralisada por falta de dinheiro do GDF (Governo do Distrito Federal), o Autódromo Nelson Piquet, em Brasília, segue fechado. Só neste ano, o autódromo deixou de receber uma etapa da Fórmula Indy, que já estava contratada, a sexta etapa do Campeonato Brasileiro de Moto 1000 GP, duas etapas da Stock Car e duas Fórmula Truck. Havia ainda a expectativa de Brasília sediar uma etapa do Mundial de Motovelocidade.
Para os pilotos locais, a única alternativa tem sido viajar 200 quilômetros até a pista mais próxima, o Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Goiânia, o que aumenta os custos das equipes.
O governo local estima que R$ 35 milhões seriam suficientes para finalizar a pista e recuperar a arquibancada do Autódromo Internacional Nelson Piquet para treinos e provas. Como não está disposto a desembolsar esse dinheiro, busca apoio da iniciativa privada, por meio de parcerias e concessões. “Não é tarefa de governo ou de empresa pública administrar essas estruturas”, declarou ao Fato Online o presidente da Terracap (estatal responsável pela reforma), Alexandre Navarro.
Justiça norte-americana desmonta esquemas de corrupção na Fifa e prende dirigentes de alto escalão da entidade que controla o futebol mundial. Entre eles, o brasileiro José Maria Marin, então presidente da CBF
O ano de 2015 ficará marcado na história do futebol mundial. No dia 27 de maio, a Fifa (Federação Internacional de Futebol) viveu um terremoto quando sete dirigentes do alto escalão da entidade foram detidos em operação conjunta da Justiça dos Estados Unidos e da polícia da Suíça.
Às vésperas da eleição que reconduziria Joseph Blatter ao comando da Fifa por mais quatro anos, as autoridades desembarcaram, na manhã de uma quarta-feira, no luxuoso hotel Baur au Lac, em Zurique, para proceder às prisões. A operação foi focada nos dirigentes da Conmebol e da Concacaf, entidades que controlam o futebol na América do Sul e na América Central, no Norte e no Caribe, respectivamente.
O ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e da organização da Copa do Mundo de 2014, José Maria Marin, estava entre os cartolas acusados de terem recebido propinas milionárias em esquemas de corrupção no futebol como fraude, lavagem de dinheiro e crimes financeiros.
Numa operação surpresa, policiais suíços prenderam dirigentes da Fifa atendendo a um pedido de cooperação judicial dos EUA. O foco foi a delegação da América Latina, e todos foram conduzidos à delegacia de Zurique para responder às acusações de corrupção e desvio de verbas em "torneios de futebol da América Latina”.
Entre os presos, além de José Maria Marin, estão Jeffrey Webb (um dos vice-presidentes da Fifa, membro do Comitê Executivo, presidente da Concacaf, membro do Comitê Executivo da União de Futebol do Caribe [CFU], membro do Comitê Executivo e presidente da Associação de Futebol das Ilhas Cayman), Eugenio Figueiredo (vice-presidente da Fifa, ex-presidente da Conmebol e da Associação Uruguaia de Futebol), Rafael Esquivel (membro do Comitê Executivo da Conmebol e presidente da Federação Venezuelana de Futebol), Eduardo Li (membro dos comitês executivos da Fifa e da Concacaf e presidente da Federação de Futebol da Costa Rica), Julio Rocha (membro do Comitê de Desenvolvimento da Fifa e presidente da Federação de Futebol da Nicarágua) e Costa Takkas (assessor do presidente da Concacaf).
Todos estavam na Suíça para participar do Congresso da Fifa. Além deles, Charles Blazer e o brasileiro José Hawilla, fundador da Traffic Group, maior empresa de marketing esportivo da América Latina, assinaram confissões de culpa e acordos de delação premiada.
A Justiça americana indicou que parte das propinas se referia às organizações da Copa no Brasil, da Taça Libertadores da América e mesmo da Copa América. Além de corrupção, Marin foi acusado de conspiração e, meses mais tarde, foi extraditado aos EUA, onde está em regime de prisão domiciliar em seu luxuoso apartamento, em Nova York.
No semestre seguinte, a Justiça norte-americana indiciou 24 dirigentes e empresários e confiscou US$ 100 milhões dos envolvidos. A operação da Justiça norte-americana contra a corrupção no futebol já recuperou aos cofres dos EUA mais de US$ 190 milhões (cerca de R$ 720 milhões), em multas e acordos de delação premiada. O valor não inclui as fianças pagas pelos dirigentes para que possam aguardar o julgamento em liberdade condicional.
Dos 41 indiciados no caso, pelo menos oito deles já fecharam acordos para cooperar nas investigações. Os entendimentos envolveram o pagamento do valor considerado pelos americanos como parte da fraude cometida. Segundo o FBI (Federal Bureau of Investigation), cerca de 27 pessoas ainda serão incluídas na lista até 2016.
A regra era simples: para que uma rede de televisão ou uma empresa tivesse os direitos sobre um evento ou uma seleção, teria de pagar um pedágio, por vezes anual, ao dirigente no comando. O resultado é que ganhava o contrato quem pagava a propina e não quem tinha a melhor oferta.
O impacto na América Latina tem sido profundo com a prisão, afastamento e até fuga de presidentes de confederações e associações nacionais. Brasil, Chile, Bolívia, Costa Rica, Honduras, Guatemala, Venezuela e Colômbia foram sacudidos pela crise. Entre os acusados estão três brasileiros, os últimos presidentes da CBF: Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.
No início de dezembro, a Justiça norte-americana voltou à Suíça e lançou a segunda etapa na operação contra a corrupção no futebol, em Zurique. As prisões ocorreram no mesmo hotel luxuoso onde, em 27 de maio de 2015, sete outros dirigentes foram detidos, entre eles José Maria Marin. Os cartolas estavam em Zurique para as reuniões do Comitê Executivo da entidade. Eles são suspeitos de corrupção e lavagem de dinheiro e aguardam o processo de extradição para os EUA.
Na nova onda de prisões que visa, principalmente, o futebol sul-americano, as polícias da Suíça e dos Estados Unidos detiveram o atual presidente da Conmebol, Juan Ángel Napout. Ele é o terceiro presidente da entidade detido em seis meses. O outro preso é o cartola de Honduras, Alfredo Hawit, presidente da Concacaf. Os dois são vice-presidentes da Fifa.
Segundo o Departamento de Polícia da Suíça, eles são acusados de receber milhões de dólares em propinas por contratos comerciais em torneios. No total, 16 dirigentes foram indiciados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Dias depois das prisões em Zurique, o ex-secretário-geral da Conmebol José Luis Meiszner se entregou na Argentina e deve ser extraditado para os Estados Unidos, onde responderá por acusações de corrupção.
Em entrevista à reportagem, Napout insistia que queria "reformar a Conmebol" e que era "totalmente favorável à transparência". Adotando um tom de "reformador", ele afirmava que "não renunciaria" e que a entidade sul-americana entrava em uma nova fase, depois das prisões dos ex-presidentes Eugênio Figueredo e Nicolás Leoz.
Em junho, Andrew Jennings cobrou mais ação das autoridades brasileiras e avisou que o cerco a Jérôme Valcke estava se fechando e que investigações alcançariam João Havelange e Ricardo Teixeira
Logo depois da repercussão da onda de prisões dos dirigentes da Fifa, o jornalista britânico Andrew Jennings falou com exclusividade ao Fato Online. De sua fazenda no Norte da Escócia, o repórter que ajudou o FBI a investigar o esquema de corrupção da entidade que controla o futebol mundial cobrou das autoridades brasileiras mais ação. Segundo ele, as investigações no Brasil estão 14 anos atrasadas e ele já apontava que havia evidências suficientes de corrupção também na CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Jennings acreditava no envolvimento direto de antigos e atuais dirigentes da CBF no esquema de corrupção descoberto na Fifa, como João Havelange e Ricardo Teixeira. Poucos meses mais tarde, os dois apareceram na mira do Departamento de Justiça norte-americano e estão sendo investigados.
O jornalista escocês é autor de dois livros que revelam detalhes dos bastidores da corrupção na Fifa, “Jogo Sujo” e “Um Jogo cada Vez mais Sujo”. As informações colhidas por ele serviram de subsídio para a abertura das investigações pelo FBI (Federal Bureau of Investigation). Jennings criticou a omissão da PF (Polícia Federal) e do MP (Ministério Público) do Brasil nas investigações sobre a CBF e pediu mais rigor das autoridades.
“Espero que a Polícia Federal brasileira faça o seu trabalho e proceda às investigações necessárias de maneira eficiente. Ela tem um bom material e boas evidências”. O repórter referia-se às informações contidas no relatório da CPI do Futebol, elaborado pelo senador Alvaro Dias (PSDB/PR) em 2001 e que fundamentou alguns de seus livros.
Outro nome antecipado pelo repórter Andrew Jennings ao Fato Online em relação às investigações do FBI foi o do então secretário-geral da Fifa, o francês Jerome Valcke. Em junho, o escocês revelou uma carta do início dos anos 2000 na qual Joseph Blatter chama Valcke de chantagista e mostra como o executivo francês subiu de forma nebulosa na hierarquia da Fifa.
De acordo com Jennings, no início da década de 2000, além de chantagear o então presidente da Fifa, Joseph Blatter, Valcke traiu o principal patrocinador da entidade. O negócio foi questionado na Justiça e a Fifa acabou sendo condenada a pagar indenização de US$ 90 milhões.
Ainda segundo o escocês, em 2001, Jérôme Valcke era executivo de uma empresa francesa de telecomunicações que pretendia comprar a falida ISL – empresa de marketing esportivo que negociava com a Fifa contratos de TV e promoção da Copa do Mundo. Auditores do conglomerado para o qual Valcke trabalhava investigaram as contas e, subitamente, desistiram do negócio. Para Jennings, o grupo de Valcke teria descoberto um esquema de propinas e teria tentado renegociar os contratos com a Fifa.
Meses depois, o francês recebeu a carta de Blatter reclamando da chantagem. Em 2003, contudo, Jérôme Valcke foi surpreendentemente contratado por Blatter para comandar o marketing da Fifa e, logo depois, tornou-se secretário-geral da entidade. Conforme antecipou o Fato Online, em junho, logo após as prisões dos dirigentes da Fifa, na Suíça, o nome de Jérôme Valcke não demoraria a aparecer no escândalo de corrupção da entidade que controla o futebol.
Depois de ser acusado de ter operado um sistema de venda de ingressos para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, o francês Jérôme Valcke deixou o cargo de secretário-geral da Fifa em junho passado. Segundo a denúncia, ele pode ter fechado acordos para ficar com 50% dos lucros da venda de ingressos para a Copa do Mundo 2014 num esquema com ágio de mais de 200% nos valores das entradas e que teria envolvido mais de 2 milhões de euros (R$ 8,6 milhões), apenas para o bolso do dirigente.
Ele passou a ser investigado pelo Comitê de Ética a pedido da própria Fifa e encerrou finalmente seu ciclo na entidade mais poderosa do futebol mundial.
Atolados em uma dívida bilionária, os clubes brasileiros pressionaram a bancada da bola na Câmara dos Deputados para apresentar um projeto de lei que anistiasse cerca de R$ 4 bilhões em débitos por não pagarem impostos. Rapidamente, o deputado federal Vicente Cândido (PT/SP), sócio de Marco Polo Del Nero em um escritório de advocacia, elaborou uma proposta para perdoar os times mau pagadores: o Proforte. Logo foi criada, na Câmara Federal, uma comissão especial para analisar a proposição. Quase toda formada por deputados ligados aos clubes.
Os parlamentares-cartolas só não contavam com o protagonismo do tucano Otávio Leite (PSDB/RJ) que se tornou relator da matéria e impediu a manobra e com a atuação do Bom Senso Futebol Clube, movimento formado por jogadores e ex-craques que defendem uma gestão mais transparente o futebol brasileiro. No lugar do Proforte, o carioca elaborou a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte na qual impunha algumas contrapartidas aos clubes que quisessem negociar suas dívidas.
Resistentes à proposta de Otávio Leite, os membros da bancada da bola articularam para barrá-la até o Executivo tomar as rédeas da negociação que não avançou no Congresso. Como a proposta de Leite sequer foi votada, o Palácio do Planalto atropelou o rito legislativo, elaborou a MP 671/2015 e a enviou ao Congresso, o que causou um mal-estar até com os deputados-cartolas da base do governo. Afinal, em assunto de esporte, os congressistas preferem defender os interesses das agremiações que representam a defender suas siglas partidárias.
Na teoria, a medida provisória enviada pelo governo federal apresentava o Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), que previa o financiamento das dívidas em troca de novas práticas de gestão e transparência. Porém, após mais de dois meses de discussões, no meio do escândalo que resultou na prisão de sete executivos da Fifa (Federação Internacional de Futebol) e da criação de uma CPI para investigar a máfia no futebol, o lobby da bancada da bola continuou forte para evitar a aprovação de contrapartidas.
O texto original previa a renegociação das dívidas dos clubes de futebol com a União em até 240 meses. Hoje, essas dívidas estão estimadas em R$ 4 bilhões. Como contrapartida, a MP estabelecia medidas de governança para as equipes, como a proibição de mais de uma reeleição de dirigentes esportivos e o rebaixamento em campeonatos no caso de atraso de salários. Porém, nos bastidores, deputados e senadores ligados à bancada da bola não queriam a aprovação de contrapartidas. A ideia, além disso, era aumentar o tempo de parcelamento para que os débitos fossem negociados praticamente a fundo perdido.
Depois de muita discussão, a proposta foi aprovada na Câmara e seguiu para o Senado, onde foi criada uma comissão mista para discutir a MP dos clubes de futebol. Novamente a relatoria ficou a cargo do deputado federal Otávio Leite. O colegiado nem começou a funcionar, e deputados e senadores apresentaram 181 emendas ao texto original editado pelo governo em 19 de março.
Conforme publicou o Fato Online na época, boa parte das sugestões protocoladas pelos parlamentares tratava de assuntos bem diferentes do original, indo desde o perdão de débitos da Cruz Vermelha no Brasil e de outras entidades filantrópicas até a inclusão de um veto da presidente Dilma Rousseff sobre tarifa de energia elétrica na região Nordeste.
Em setembro, a Lei 13.155/2015, resultante da MP dos Clubes, foi publicada no Diário Oficial da União. De acordo com a norma, as dívidas poderão ser pagas em até 240 meses, com desconto de 70% das multas, 40% dos juros e 100% dos encargos legais. As primeiras 60 parcelas poderão ter o pagamento reduzido em 50%, 25% e 10%, desde que o recolhimento mensal seja no mínimo de R$ 3 mil. O saldo remanescente do débito será acrescido nas prestações restantes.
Também poderão ser parcelados os débitos cujos fatos geradores tenham ocorrido até 5 de agosto deste ano, constituídos ou não, inscritos ou não na DAU (Dívida Ativa da União), mesmo que em fase de execução fiscal já ajuizada ou que já tenham sido objeto de parcelamento anterior não integralmente quitado, ainda que excluído por falta de pagamento.
De acordo com a Receita Federal, 111 entidades desportivas apresentaram pedido de parcelamento de débitos dentro do Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro). O prazo para adesão ao programa acabou no dia 30 de novembro. Segundo o órgão, as dívidas que serão parceladas, tributárias e não tributárias, somam R$ 3,83 bilhões. O órgão ressalta que a permanência no programa está condicionada à manutenção da regularidade fiscal em relação a dívidas posteriores àquelas incluídas no parcelamento. O Profut permite o parcelamento de dívidas dos clubes em até 240 vezes e exige que eles adotem práticas transparentes de gestão e de equilíbrio financeiro.
Conforme antecipou o Fato Online, PMDB e bancada da bola fazem manobra para driblar Romário, indicam relator Romero Jucá e atrasam trabalhos
Em resposta ao escândalo de corrupção na Fifa envolvendo nomes de dirigentes brasileiros, o Senado Federal criou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O requerimento de instalação foi de autoria do senador Romário (PSB/RJ).
Um dos maiores desafetos da entidade, o ex-jogador afirmou na ocasião que o nome do Brasil sempre esteve ligado a tudo que há de pior em termos de corrupção esportiva. “Graças a um dos ratos que venho denunciando há muito tempo, a mesma pessoa que, ao lado da presidente Dilma Rousseff, recebeu chefes de Estado em plena Copa do Mundo de Futebol, José Maria Marin”, disse, certo de que seria o relator do colegiado.
Mas em uma jogada ensaiada com a bancada da bola, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), retirou a relatoria da CPI das mãos do senador carioca. Autor do requerimento de instalação da CPI, Romário queria a relatoria do colegiado (como é praxe no Congresso), mas sentiu a pressão do PMDB, que tem maioria na Casa e, portanto, a preferência para indicar o presidente ou relator.
“Em respeito à história do Romário e em homenagem a ele, que quer moralizar o futebol brasileiro, a gente está cedendo a presidência. O partido dele só tem direito a um membro, mas entramos em acordo com os demais partidos para ceder a presidência”, disse Eunício ao Fato Online.
Romário tentou reverter nos bastidores, mas tomou um drible da vaca dos parlamentares-cartolas. O Fato Online antecipou que o PMDB indicaria Romero Jucá para a relatoria das investigações sobre denúncias de irregularidades na CBF, o que foi confirmado duas semanas depois.
Naquele momento, Jucá relativizou o fato de ter sido escalado para fazer parte da CPI. "Eu fui convocado pela experiência de ser relator de várias matérias. O presidente Romário tem história e experiência dentro e fora do campo. Dá para, somando experiências, a gente montar uma bela seleção e não perder de 7 a 1, virar o jogo", brincou.
Mas, logo no início dos trabalhos, apresentou plano de trabalho burocrático com a clara intenção de postergar as investigações. A frequente ausência do relator também obrigou o presidente Romário a apresentar a maioria dos requerimentos do colegiado.
Desde então, o senador socialista conseguiu quebrar sigilos de seus desafetos e ex-presidentes da CBF Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.
No entanto, em manobras sucessivas sempre articuladas pela bancada da bola, ligada a Romero Jucá, reuniões passaram a ser esvaziadas e adiadas. No início de novembro, por exemplo, a sessão que votaria requerimentos que pediam o demonstrativo de resultados e lucros e a quebra de sigilos bancários e fiscal do COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo de 2014 e de pessoas e empresas ligadas à CBF e a seus dirigentes foi boicotada e remarcada.
Ao todo, a comissão tem 11 titulares e oito suplentes. Além de investigar questões relativas à CBF, a CPI também pretende avaliar os contratos firmados para a realização da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014.
Em resposta à ação proletória de Jucá, os senadores Romário e Randolfe Rodrigues (Rede/AP) conseguiram prorrogar por mais seis meses os trabalhos do CPI do Futebol, que deveria ser concluída no dia 22 de dezembro.
"Eu e o senador Randolfe Rodrigues acabamos de conseguir 35 assinaturas para a prorrogação da CPI do Futebol. Recebemos várias informações que comprovam todo sistema corrupto do futebol brasileiro, onde a CBF é a cabeça de tudo isso. Logo, não podemos encerrar o trabalho de investigação tão promissora”, escreveu Romário nas redes sociais.
Em 2015, o Gama recuperou a hegemonia no futebol local, a capital do país foi confirmada sede olímpica e, pela primeira vez, um time local - o Brasília - participou de uma competição internacional
O ano de 2015 foi diferente para o futebol do Distrito Federal. É possível perceber um crescimento dos clubes que disputaram novas competições, apesar de a maioria das reclamações seguirem as mesmas. Mas, a falta de apoio da Federação Brasiliense de Futebol, reivindicação antiga dos times, levou à queda do ex-presidente e a expectativa agora é de que as coisas melhorem.
No entanto, se durante o ano faltou futebol local, o Mané Garrincha pode se gabar de ter recebido importantes partidas de times de fora. Flamengo, Botafogo e outros grandes clubes arrastaram multidões para o estádio. No ano que vem, seleções internacionais também jogarão na arena, já que, depois de muita confusão e demora, a cidade foi confirmada sede de dez partidas de futebol da Olimpíada de 2016. O futebol movimentou pessoas e emoções no ano que está acabando.
O Campeonato Brasiliense de Futebol de 2015 começou no dia 25 de janeiro, com 11 times. Brasília, Gama, Brasiliense, Ceilândia, Luziânia, Sobradinho, Formosa, Paracatu, Cruzeiro, Santa Maria e Ceilandense se enfrentaram durante 11 rodadas. Classificaram-se Sobradinho, Brasiliense, Formosa, Gama, Luziânia, Ceilândia, Paracatu e Brasília para as quartas de final. Mais jogos de ida e volta na semifinal e Brasília e Gama chegaram à decisão do Candangão. No dia 2 de maio, o Gama levantou a taça do Campeonato Brasiliense após 12 anos, depois de vencer o arquirrival Brasília nas duas partidas da final.
Já o Brasília disputou, ainda nos primeiros meses do ano, a Copa Verde 2015 e, diferentemente de 2014, quando foi campeão, parou nas quartas de final ao ser eliminado pelo Luverdense. Terminado o primeiro semestre, a maioria dos times foi desmontada, mas, ao contrário dos anos anteriores, os finalistas do Candangão tinham competições importantes no segundo semestre.
O Gama, campeão distrital, redirecionou o foco para a série D do Campeonato Brasileiro. O tempo de preparação para o Brasileirão foi curto, pouco menos de um mês para colocar a casa em ordem e montar um time competitivo. Ao longo de 12 dias, o grupo foi ao México, onde disputou quatro amistosos preparativos para a competição, vencendo dois e empatando dois. A quarta divisão durou para o time candango até o dia 13 setembro, quando empatou com o Botafogo-SP, por 0 a 0, resultado que eliminou o Gama da competição, ainda na primeira fase.
Já o Brasília Futebol Clube fez história. A equipe, ao vencer a Copa Verde 2014, garantiu vaga para a Copa Sul-Americana, tornando-se o primeiro time do Distrito Federal a disputar uma competição internacional. Na primeira fase, eliminou o Goiás, time de série A, na casa do adversário. Nas oitavas de final da competição, enfrentou o Atlético Paranaense e, por pouco, não eliminou o Furacão, chegando à fase internacional do torneio. O sonho do Brasília chegou ao fim no dia 1º de outubro, mas o clube faturou US$ 375 mil com os quatro jogos.
Depois das eliminações, os únicos times do DF que ainda estavam em atividade também pararam e começaram as dispensas. No Gama, o técnico Gilson Granzotto deixou o clube. O treinador teve seu contrato finalizado no início de setembro, e o time não o renovou. Seis atletas também tiveram o contrato rescindido. Os demais precisaram aceitar a diminuição do salário para não perder o emprego.
No Brasília Futebol Clube, foi feito um esforço para manter a equipe até o início da pré-temporada de 2016. De acordo com o presidente, o empresário Luis Felipe Belmonte, que deu entrevista exclusiva ao Fato Online contando os planos para o futuro. A maioria dos jogadores tem contrato até o meio do ano que vem e permanecem no Brasília, que irá disputar três competições na próxima temporada: Candangão, Copa Verde e Copa do Brasil.
As dispensas atingiram pelo menos seis jogadores do Brasília. Os demais foram mantidos com os mesmos salários. O clube também segurou o técnico Omar Feitosa, que levou o time às oitavas de final da Copa Sul-Americana. Em dezembro, o Brasília já retornou às atividades visando 2016, enquanto os outros times ainda esboçam as primeiras movimentações para a montagem de elenco.
No mês de agosto, o então presidente da FBF (Federação Brasiliense de Futebol), Josafá Dantas, foi retirado do posto. Em uma assembleia com a presença de representantes de 15 clubes, foi decidido, por unanimidade, a destituição do presidente. “Existem denúncias de corrupção, mas não podemos afirmar. A intervenção ocorreu por causa da falta de transparência e iniciativa do antigo presidente. A gestão foi muito ruim, então, em março (de 2016), teremos uma eleição, pois não quisemos antecipar o pleito. Alguns queriam para este ano, mas não se trata de golpe”, garantiu o deputado distrital Ricardo Vale (PT), que também é presidente do Sobradinho Esporte Clube.
Quem comanda a federação é o vice Erivaldo Alves. "Neste momento, há estabilidade institucional na Federação e abertura da nossa parte para dialogar com todos os parceiros sociais e institucionais, em prol do desenvolvimento do futebol no Distrito Federal", garantiu Erivaldo. Até o nome da federação mudou, agora a instituição é denominada Federação de Futebol do Distrito Federal. As conversas para o Candangão 2016 já começaram. A tabela para a competição foi divulgada no dia 27 de novembro, garantindo o início do torneio no dia 30 de janeiro do ano que vem.
A melhor notícia de 2015 para o futebol do Distrito Federal foi mesmo a confirmação de Brasília como sede de 10 jogos, sete masculinos e três femininos, da Olimpíada de 2016. A capital já havia sido anunciada como sede em março, mas, no fim de outubro, atraso na assinatura do contrato com o COL (Comitê Organizador Local) dos jogos fez com que a cidade quase perdesse as partidas.
Foi então que o DF passou a correr contra o tempo para confirmar Brasília como sede. No dia 9 de novembro, o Projeto de Lei 750/2015 chegou à Câmara Legislativa, e coube aos deputados distritais aprovar a proposta para que a cidade sediasse os jogos. O projeto trazia os compromissos assumidos com o COI (Comitê Olímpico Internacional) para que a assinatura do contrato acontecesse. O PL foi aprovado no dia seguinte pelos distritais e, na segunda-feira, 16 de novembro, o governador Rodrigo Rollemberg assinou o contrato com o COL. "Minha profunda alegria é, enquanto governador, assinar esse termo de cooperação que vai viabilizar a Olimpíada. Esta é vocação da nossa cidade: ser um grande centro político, educacional, científico, esportivo", afirmou.
Em entrevista exclusiva ao Fato Online, a secretária adjunta de esportes, Leila Barros, afirmou que os gastos do Distrito Federal com a Olimpíada e com o revezamento da tocha olímpica, marcado para maio, serão de cerca de R$ 25 milhões. Segundo a secretária, esses recursos não virão apenas dos cofres do governo local. "Brasília não poderia estar fora de um evento como esse. Hoje eu estou realizando um sonho que não é só meu, estou aqui realizando um sonho, acima de tudo, do Brasil e de Brasília. Todos queriam Brasília nesta festa e Brasília vai participar", declarou a ex-jogadora de vôlei.
Copas do Brasil, Libertadores e Sul-americana ditaram a emoção do futebol nos intervalos do Brasileirão. Mas os títulos internacionais ficaram com times de outros países. O Palmeiras levou a Copa do Brasil e estará na Libertadores do ano que vem
As Copas trouxeram muita emoção para 2015. As competições sempre se diferenciam das demais, já que os regulamentos são de jogos mata-matas, com semifinal e final decidindo o campeão. Detalhe que faz acelerar o coração do torcedor até o apito final.
Se muitos reclamam que falta emoção no Campeonato Brasileiro, por exemplo, já que o torneio é disputado em pontos corridos, na Copa Libertadores da América, Copa Sul-Americana e Copa do Brasil um gol aos 45 minutos do segundo tempo ou até os pênaltis podem decidir um campeão.
A Copa Libertadores de 2015 começou no dia 3 de fevereiro. Representaram o Brasil os seguintes times: Cruzeiro, campeão do Brasileirão 2014; Atlético Mineiro, campeão da Copa do Brasil 2014; e ainda São Paulo, Internacional e Corinthians – respectivamente segundo, terceiro e quarto colocados do Campeonato Brasileiro do ano passado.
O Corinthians precisou passar pela chamada pré-Libertadores, mas venceu fácil o Once Caldas, indo para a fase de grupos da competição. Na segunda fase, todos os brasileiros conseguiram vencer e chegaram às oitavas de final. Nos confrontos brasileiros, não faltaram emoção.
Na partida de volta, no dia 13 de maio, o Internacional eliminou o Atlético/MG, no Beira Rio. O placar foi de 3 a 1 para o Colorado, sendo que o time gaúcho já havia empatado em 2 a 2 na casa do Galo. Valdívia, D’Alessandro e Lisandro marcaram os gols do Inter, levando a equipe para as quartas de final. No outro confronto verde e amarelo, o Cruzeiro garantiu a vaga, mas precisou eliminar o São Paulo nas penalidades.
Só que, apesar de ter chegado motivado às quartas, a equipe mineira acabou sucumbindo à superioridade do River Plate. Em pleno Mineirão, o time celeste foi goleado por 3 a 0, dando adeus ao torneio. O Inter até que deu um passo a mais. O clube brasileiro conseguiu passar pelo mediano Santa Fé, da Colômbia e foi para a semifinal enfrentar o Tigres do México.
O problema é que, no dia 22 de julho, fora de casa, o Colorado jogou mal e, apesar de ter a vantagem da partida de ida, acabou eliminado pela equipe mexicana. O Tigres fez 3 a 1 e deixou o Inter fora desta que poderia ter sido a quarta final de Libertadores do time gaúcho.
Assim, a decisão da competição, sem clubes brasileiros, foi entre River Plate e Tigres. Depois de empatar a primeira partida em 0 a 0 na casa do adversário, o River goleou o jogo em seus domínios por 3 a 0 e conquistou o seu terceiro título da Libertadores, depois de um jejum de 19 anos.
Realizada pela Conmebol, a Copa Sul-Americana teve a 14ª edição em 2015. Atlético Paranaense, Sport, Goiás, Chapecoense, Joinville, Ponte Preta, Bahia e Brasília foram os representantes brasileiros.
Em sua primeira participação em uma competição internacional, o Brasília eliminou o Goiás na segunda fase (com clubes do Brasil e da Argentina). Já nas oitavas de final, foi eliminado pelo Atlético Paranaense, que já havia desclassificado o Joinville. Bahia e Ponte Preta também ficaram pelo caminho.
Nas quartas de final, apenas Atlético Paranaense e Chapecoense representaram o Brasil. Mas os dois caíram diante de Sportivo Luqueño e River Plate, respectivamente. O River Plate acabou surpreendido pelo Huracán e não chegou à final. Assim como o Sportivo, eliminado pelo Santa Fé.
Na primeira partida da final, o argentino Huracán não aproveitou a vantagem de jogar em casa e segurou apenas um tímido empate em 0 a 0 com o Santa Fé. Na partida de volta, na Colômbia, o empate em 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação levou a decisão do título para os pênaltis: 3 a 1 para o Santa Fé. E o futebol colombiano pôde comemorar o primeiro título do país na Libertadores.
Considerada a competição mais democrática do país, por reunir times grandes e pequenos de todos os estados, a Copa do Brasil 2015 começou em fevereiro. Oitenta e seis equipes participaram do torneio, a maioria se classificou de acordo com a colocação no campeonato estadual do ano anterior, outros, bem ranqueados pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol, entraram direto nas oitavas de final.
A partir das oitavas de final, a competição brindou o torcedor com jogos bons de serem assistidos. Teve, por exemplo, o Vasco eliminando o arquirrival Flamengo; o São Paulo revertendo resultado fora de casa diante do Ceará; clássico paulista entre Corinthians e São Paulo – melhor para o Peixe. Merecem destaque ainda os jogos entre Palmeiras e Cruzeiro, que eliminaram o time mineiro.
Nas quartas, oito times e oito jogos de tirar o fôlego. O São Paulo eliminou o Vasco, o Santos desclassificou o Figueirense, o Palmeiras superou o Internacional e o Fluminense passou pelo Grêmio em confronto dificílimo.
Nas semifinais, o Santos atropelou o São Paulo com duas vitórias por 3 a 1 e garantiu, com tranquilidade, a vaga na grande final. Já o Palmeiras teve mais trabalho: nos pênaltis, o time paulista passou pelo Fluminense.
A primeira partida da decisão, no dia 25 de novembro, foi puro nervosismo. O confronto terminou com uma justa vitória do Santos por 1 a 0 em cima do Palmeiras, na Vila Belmiro, em jogo que mostrou dois times opostos, com filosofias de jogo bem distintas. De um lado, a objetividade santista e o prazer de atacar o adversário incessantemente. Do outro, o pragmatismo palmeirense, com jogadores se doando ao máximo apenas para evitar o gol do rival e com o goleiro Fernando Prass como o melhor jogador do time. Vale lembrar que o placar só não foi maior porque o Santos desperdiçou um pênalti.
E como fez falta o gol que o Peixe não marcou no primeiro jogo. Na segunda partida, o Palmeiras derrotou adversário por 2 a 1 e, mais uma vez, foi superior nos pênaltis – vitória por 4 a 3 –, tendo mais competência para colocar a faixa no peito. O título palmeirense tem um herói: Fernando Prass, de forma definitiva, escreveu seu nome na história do clube. Na decisão por pênaltis, ele pegou uma cobrança e, com um chute forte, converteu o gol do título. “Vou dormir e acordar amanhã para ter certeza de que isso aconteceu”, disse o goleiro.
A mais importante competição do país, o Campeonato Brasileiro, começou em 9 de maio. Como de costume, o Brasileirão contou com 20 clubes de diversos estados, todos se enfrentando entre si, em turno e returno, tornando-se campeão o time que atingiu maior pontuação ao longo todas as rodadas: o conhecido campeonato de pontos corridos.
Neste ano, a diferença ficou por conta da quantidade de clubes de Santa Catarina no torneio. Junto com Vasco e Ponte Preta, Avaí e Joinville subiram para a série A no ano anterior e se juntaram a Chapecoense e Figueirense, que já estavam na elite do futebol brasileiro.
Desde a primeira rodada, já dava para perceber que alguns clubes estavam mais bem montados que outros. Corinthians e Atlético Mineiro foram, desde os primeiros jogos, mostrando que queriam mesmo o título, enquanto o Cruzeiro, campeão 2014, era claramente inferior ao time do ano passado. Mas ninguém chamou tanta atenção – negativamente – como a equipe do Vasco que, de volta à primeira divisão, conquistara, no primeiro semestre, um título que perseguia havia 12 anos: o Campeonato Carioca.
No fim do primeiro turno, em 17 de agosto, já estava claro quem lutava e pelo que lutavam: aqueles que iriam até o fim do ano suar a camisa para não desembarcarem na série B e os que brigariam ao menos pelo G4, o grupo dos quatro primeiros colocados que se garantem na Libertadores do ano seguinte.
Ao fim das primeiras 19 rodadas, nada do que reclamar, ao contrário. O torcedor apaixonado foi brindado com grandes jogos, novos e antigos craques, além de belíssimos gols. Naquela época, o Corinthians já era o líder, mas, até então, a vantagem ainda era pequena para quem vinha atrás. Para muitos cronistas esportivos, o Atlético Mineiro era melhor dentro de campo até a metade do campeonato.
O Vasco da Gama ocupava a lanterna e chamava a atenção pela pequena quantidade de pontos conquistada até ali: apenas 13 em 57 disputados.
Muitos técnicos foram caindo pelo meio do caminho. No total, 25. Alguns jogadores ganharam destaque, como o artilheiro da competição, Ricardo Oliveira, além de Lucas Lima, Lucas Pratto, Alexandre Pato, Jadson, Elias, Wagner Love que se recuperou, André do Sport, entre outros.
Em um campeonato de pontos corridos, um bom elenco, estrutura do clube e estratégia contam muito. O Corinthians soube usar tudo isso a seu favor. O time mais regular do Brasileiro garantiu a taça com três rodadas de antecedência, deixando como emoção para as últimas rodadas apenas a briga contra o rebaixamento e por uma vaga à Libertadores da América.
No clube mais popular do país, uma gangorra. Na 26ª rodada, Brasília foi brindada com um jogo no Mané Garrincha, lotado por quase 70 mil torcedores. O motivo de tanta euforia: o clube mais popular do país, o Flamengo, que vinha de uma sequência de seis vitórias seguidas sob o comando de Oswaldo Oliveira, tinha entrado no G4 havia uma rodada e estava com tudo para consolidar a posição no grupo de classificação para a Copa Libertadores. Bom... o Coxa ignorou a torcida, botou o adversário na roda e venceu por 2 a 0, marcando o início da derrocada do rubro-negro carioca no Campeonato. O Flamengo terminou a competição em 12° lugar.
A última rodada, no dia 6 de dezembro, foi recheada de decisões. Até mesmo o Corinthians, campeão antecipado, buscava mais uma vitória – ou, ao menos, um empate – para bater o recorde de pontos do Campeonato Brasileiro desde que a competição passou a ser definida por pontos corridos. Atlético Mineiro e Grêmio lutavam pelo vice-campeonato com um ótimo estímulo: o segundo colocado ganha, como premiação da CBF, R$ 2 milhões a mais que o terceiro lugar. São Paulo e Internacional ainda disputavam a última vaga no G4.
Na ponta debaixo da tabela, apenas o Joinville chegou à última rodada matematicamente rebaixado. Goiás, Vasco, Avaí, Figueirense e Coritiba ainda lutavam para permanecer na série A. Melhor para Coxa e Figueirense. O Coritiba se salvou ao empatar com o Vasco, que voltou a ser rebaixado – a terceira queda em oito anos –, assim como o Goiás, que perdeu para o São Paulo, resultado que garantiu ao tricolor paulista a última vaga ainda em aberto na Libertadores. O Avaí ficou perto de operar um pequeno milagre: vencer o campeão Corinthians em pleno Itaquerão, salvando-se da degola e, de quebra, ainda rebaixar o arquirrival de Florianópolis, o Figueirense. Fez 1 a 0, mas acabou cedendo o empate que decretou a queda dos ilhéus e o recorde de pontos ao Corinthians.
O Atlético Mineiro, como esperado, também ficou em segundo, com o Grêmio em terceiro e o São Paulo em quarto.
A segunda divisão do Campeonato Brasileiro de 2015 contou com belas histórias de dois gigantes do futebol. O Botafogo disputou os 38 jogos da competição ao lado de Vitória, Bahia e Criciúma, também rebaixados em 2014. Mas, por mais que fosse superior, a Estrela Solitária encontrou dificuldades ao longo do campeonato, conseguindo o retorno à série A apenas na 35ª rodada, três antes do fim do campeonato.
O título, porém, curiosamente foi definido em Brasília, cujo estádio leva o nome do maior jogador da história do clube: Mané Garrincha. A vitória por 2 a 1 em cima do ABC de Natal garantiu a taça. A torcida botafoguense do Distrito Federal, considerada uma das maiores da capital, decepcionou. Menos de 9 mil pessoas viram de perto a conquista, selada com gols de Roger Carvalho e Willian Arão.
Outro grande do futebol brasileiro, dono de uma das maiores e mais apaixonadas torcidas do Nordeste, também fez bonito. Depois de três rebaixamentos consecutivos (fato inédito) e de penar no fundo do poço – no caso, a Série D, ou quarta divisão – até 2011, o Santinha iniciou uma recuperação tão surpreendente quanto a trajetória da derrocada.
Depois de galgar da quarta para a terceira divisão e, na sequência, para a Série B, o tricolor pernambucano terminou entre os quatro primeiros e já tem bilhete para a primeira classe de 2016. O Vitória da Bahia fez o famoso bate-volta, e o América Mineiro completou o quadro de acesso. Foram rebaixados para a série C Macaé (RJ), ABC (RN), Boa Esporte (MG) e Mogi Mirim (SP).
Na Série C, o campeão foi o Vila Nova de Goiás. Também subiram para a segunda divisão o Londrina (PR), Tupi (MG) e Brasil de Pelotas (RS). Icasa (CE), Águia de Marabá (PA), Caxias (RS) e Madureira (RJ) foram rebaixados. Na Série D, o Botafogo, tradicional clube de Ribeirão Preto (SP), bateu o River do Piauí e ficou com o título da temporada. Além das duas equipes, também subiram para a Série C Remo (PA) e Ypiranga (RS).
Jogadora da seleção feminina chegou a marca de 100 gols com a amarelinha, superando o rei Pelé. No masculino, eliminação precoce na Copa América e derrota na estreia das Eliminatórias da Copa trouxeram tristezas para o torcedor
O ano de 2015 da seleção brasileira não trouxe praticamente nenhuma alegria para o torcedor. No masculino, então, o ano é para ser esquecido. Já no feminino, 2015 tem um nome: Marta. No dia 10 de dezembro, a jogadora brilhou com a camisa da seleção, marcou cinco dos 11 gols da equipe no massacre sobre Trinidad e Tobago, na Arena das Dunas, em Natal, e superou ninguém menos que Pelé. Ela chegou aos 98 gols com a camisa da seleção, contra 95 do Rei do Futebol.
Só que a atacante, mesmo assim, não para. Três dias depois, ela voltou a fazer história com a camisa da seleção brasileira feminina. A craque atingiu o seu gol de número 100 com a camisa canarinho. Ela brilhou na goleada de 6 a 0 sobre o México, pelo Torneio Internacional de Natal, no Rio Grande do Norte e marcou mais dois gols. Ainda durante a competição, que terminou no dia 20 de dezembro, a jogadora marcou mais 1 gol, terminando o ano com 101 gols com a camisa da seleção.
Com Dunga no comando da Seleção Brasileira, o ano de 2015 começou com amistosos para a equipe verde-amarela. No dia 26 de março, em Paris, o Brasil enfrentou a seleção dona da casa e saiu de campo vitorioso. Com um gol de Neymar – e com o camisa 10 inspirado e participativo –, os brasileiros bateram os franceses por 3 a 1, dando sequência aos bons resultados da segunda fase da era Dunga.
Três dias depois, foi a vez de o Brasil superar a equipe chilena. Mas, dessa vez, o placar foi mais magro. Firmino foi o autor do único gol da partida, aos 27 minutos do primeiro tempo. Em junho, mais dois amistosos e mais duas vitórias. No dia 7, foi dia de passar pelo México por 2 a 0 no amistoso que marcou o reencontro da Seleção com a torcida brasileira, em São Paulo. Os gols foram marcados por Philippe Coutinho e Diego Tardelli, ainda no primeiro tempo.
No dia 10, a seleção brasileira derrotou Honduras por 1 a 0 e foi vaiada por parte da torcida presente no Beira-Rio, em Porto Alegre. Para o atacante Robinho, que entrou no segundo tempo, o que valia naquela época era mesmo a Copa América e não o amistoso. Segundo ele, a equipe se poupou já pensando no jogo de estreia da Copa, contra o Peru, marcado para quatro dias depois.
A estreia da seleção na Copa América foi bem mais difícil do que o técnico Dunga e os torcedores brasileiros imaginavam. Na partida disputada em Temuco, no Chile, o Brasil teve dificuldades em criar boas jogadas e, por pouco, não saiu de campo com um amargo empate com o Peru. O gol da virada só veio aos 47 minutos do segundo tempo. Neymar, melhor jogador brasileiro em campo, viu Douglas Costa na direita e deu passe brilhante para que o camisa 7 fizesse 2 a 1.
Mas a tão aplaudida série de 11 vitórias seguidas da seleção brasileira chegou ao fim na noite do dia 17 de junho, em Santiago. Com uma atuação apática, o time do técnico Dunga foi dominado e derrotado pela Colômbia de James Rodríguez e Cuadrado por 1 a 0, em seu segundo jogo na Copa América. Para piorar, Dunga perdeu Neymar. O atacante, que já havia levado o segundo cartão amarelo durante a partida, foi expulso após o apito final por se envolver em confusão com jogadores da Colômbia.
No domingo (21), no Estádio Monumental de Santiago, no Chile, sem o craque Neymar, o Brasil garantiu presença nas quartas de final da Copa América. Apesar da ausência do jogador, que viu o jogo do camarote, a seleção de Dunga venceu por 2 a 1 a Venezuela, com direito a susto e sufoco no fim.
Nas quartas de final, o inesperado aconteceu. O Brasil perdeu para o Paraguai nos pênaltis e foi eliminado da Copa América. Após empate por 1 a 1 no tempo regulamentar, Éverton Ribeiro e Douglas Costa desperdiçaram as cobranças de pênaltis e classificaram o adversário, que venceu por 4 a 3, para a próxima fase.
No final de julho, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) oficializou os detalhes do amistoso que a seleção brasileira fez contra os Estados Unidos. O duelo foi o único da equipe nas datas reservadas pela Fifa para jogos internacionais em setembro e o último jogo do Brasil antes da estreia nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2018. No jogo, a equipe brasileira venceu por 4 a 1.
Inicialmente, a seleção brasileira disputaria dois jogos em setembro, nas datas reservadas pela Fifa para compromissos internacionais. Porém, o duelo contra a Argentina, válido pelo Superclássico das Américas, acabou sendo cancelado após a prisão de empresários da empresa argentina FullPlay, uma das promotoras do evento, por envolvimento no escândalo de corrupção da Fifa.
O Brasil caiu feio na estreia nas Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo de 2018, que será na Rússia. No dia 8 de outubro, a seleção perdeu por 2 a 0 para o Chile, no estádio Nacional, em Santiago, em uma partida em que fez um primeiro tempo razoável, mas foi engolido no segundo. A derrota pôs fim a 15 anos e 14 jogos de invencibilidade da seleção em cima dos chilenos e é a primeira do país em estreia nas Eliminatórias.
Dias depois, na Arena Castelão, em Fortaleza, o Brasil venceu a Venezuela por 3 a 1, e trouxe um pouco de tranquilidade ao técnico Dunga e seus comandados. A equipe novamente esteve longe de empolgar, não cumpriu o desejo de brindar a torcida – o público, aliás, de 38.970 pagantes, decepcionou – com bom futebol. Chegou a levar susto, mas fez a obrigação.
Já diante da Argentina, nem com Neymar de volta após cumprir quatro jogos de suspensão, o Brasil tirou proveito dos cinco desfalques do adversário, no Monumental de Nuñez e não passou de um empate por 1 a 1, no dia 13 de novembro. Já na Arena Fonte, em Salvador, o Brasil venceu o Peru por 3 a 0, pela quarta rodada das Eliminatórias Sul-Americanas. Esse foi o último jogo da seleção em 2015 e, com o triunfo, a equipe fechou o ano na terceira posição da competição.
é a alcunha que vem acompanhando os surfistas do país nas duas últimas temporadas do Circuito Mundial de Surfe. Referência a uma geração talentosa, ousada e, principalmente, profissional. Com patrocinadores, programas de treinamento, suporte técnico e equipamentos de alta tecnologia, os brasileiros que correm o circuito mundial disputam de igual para igual com australianos, norte-americanos e havaianos (que, no surfe, formam um "país" à parte) as etapas que acontecem pelas praias mundo afora.
O título de Gabriel Medina, em 2014, foi a confirmação das expectativas de que o melhor do mundo seria, mais dia, menos dia, um nome brasileiro. O campeonato mundial conquistado em dezembro por Adriano de Souza, o Mineirinho, na mítica praia de Pipeline, no Havaí (EUA) - meca do esporte - mostrou que o surfe brasileiro atingiu a maioridade.
Neste ano de 2015, as marcas alcançadas são reveladoras do atual estágio do surfe nacional, que fecha a temporada como "campeão de tudo". Adriano de Souza, o Mineirinho, conquistou o título mundial e o Pipe Masters, mais importante e tradicional etapa do circuito, vencida pela primeira vez por um brasileiro. Já Gabriel Medina, terceiro colocado no ranking da WSL (Liga Mundial de Surfe), levou a Tríplice Coroa Havaiana - melhor desempenho nos três principais torneios do Havaí. E Ítalo Ferreira fecha a temporada em 7º lugar como "Rookie Of The Year", o Calouro do Ano. Com apenas 21 anos, o potiguar de Baía Formosa colecionou triunfos sobre os principais nomes do circuito: já venceu baterias com o mito Kelly Slater (EUA), o australiano Mick Fanning e o próprio Gabriel Medina. Para fechar a conta verde e amarela, Caio Ibelli foi campeão do WQS, a divisão de acesso ao Circuito Mundial. Com ele, o Brasil terá, em 2016, dez surfistas na elite do esporte, um recorde.
"O Brasil está bem. Ano passado fui campeão mundial, este ano, foi o Adriano, teremos dez atletas na elite no próximo ano e espero que tenha uma evolução. É muito bom ver o esporte crescendo no meu país. Fico feliz de fazer parte de tudo isso e de ter sido o primeiro campeão mundial, que fez todo mundo a acreditar nos seus sonhos", disse Medina.
O desempenho da Tempestade Brasileira coroou uma temporada emocionante, marcada por momentos dramáticos e vitórias épicas. Das onze etapas, em apenas duas não havia um brasileiro na bateria final - Fiji e África do Sul. Nas outras nove, o Brasil venceu seis: Filipinho levou três troféus (Gold Coast-Austrália, Rio de Janeiro e Portugal), Mineirinho duas (Margareth River-AUS e Pipeline-Havaí) e Medina uma (França).
A temporada 2015, porém, ficará marcada na história do surfe por uma cena impressionante: o ataque de um grande tubarão ao tri-campeão mundial Mick Fanning, na final da etapa da África do Sul, a sexta do circuito. Em Jeffrey`s Bay, o australiano disputava a bateria derradeira contra o compatriota Julian Wilson quando foi atingido pelo animal. Tudo transmitido ao vivo pela TV e internet. Foram poucos segundos até a equipe de resgate chegar em jet skis e tirar o surfista da água. Fanning nada sofreu, mas a competição foi encerrada e o título, dividido entre ele e Wilson.
No fim do ano, após perder o título para Mineirinho, Fanning relembrou o incidente: "aquele foi um dia que tudo mudou. Eu me considero muito sortudo, já me considerava antes e, agora, mais ainda. Acho que escapar ileso de uma situação como essa é raro. Estou feliz de estar aqui, de ter uma segunda chance, fazendo o que eu amo".
As primeiras etapas do Circuito Mundial já indicavam a intensidade da "tempestade": logo na abertura, em Gold Coast, na Austrália, Filipe Toledo surpreendeu os favoritos e bateu o local Julian Wilson na bateria final para ficar com o troféu e largar na frente na corrida pelo posto de melhor do mundo.
Na sequência, em Bells Beach, no Sul da Austrália, foi a vez de Mick Fanning mostrar que estava decididamente disposto a retomar a coroa perdida para Medina no ano anterior. Fechando o tour australiano, Adriano de Souza brilhou em Margareth River, na Costa Oeste, com uma vitória apertada - apenas 0,66 ponto de diferença - sobre o havaiano J.J. Florence na decisão.
Campeão mundial em 2014, Gabriel Medina não conseguiu o bi por causa do seu péssimo início de temporada. O brasileiro só se recuperou a partir da sexta etapa, em Jeffrey`s Bay, e foi o surfista que mais pontos conquistou na segunda metade do circuito. Nas últimas seis etapas, ele avançou pelo menos às quartas de final em todas. A boa campanha de recuperação não foi suficiente, porém, para conquistar o bi-campeonato, mas ele fechou o ano com a Tríplice Coroa Havaiana, dada ao surfista com maior pontuação na soma das três principais competições disputadas no Havaí: Haleiwa, Sunset Beach e Pipe Masters. “Estou amarradão por levar a Tríplice Coroa”, disse Medina.
Na etapa seguinte, no Rio de Janeiro, festa da torcida brasileira para Filipinho, que bateu Bede Durbidge (AUS) na decisão. Com a praia da Barra da Tijuca lotada - foi o maior público do ano -, Filipe Toledo mostrou, definitivamente, que estava na luta pelo título mundial.
Na quinta etapa, em Fiji, os top 3 do Brasil foram eliminados precocemente. Mas a "tempestade" levou às quartas de final dois coadjuvantes talentosos: Wiggolly Dantas e o calouro Ítalo Ferreira. O título ficou com o australiano Owen Wright, outro que lutou até o fim pelo título mundial.
A sexta etapa, na África do Sul, manteve Mineirinho na liderança, após a direção da prova cancelar a bateria final por causa do ataque de tubarão a Mick Fanning, e dividir a pontuação entre os dois finalistas.
Aí veio Teahupoo, no Taiti, com seus tubos perfeitos, para marcar a volta de Gabriel Medina ao pódio. O campeão mundial chegou à final, perdida para o francês das Ilhas Reunião (no Oceano Índico) Jeremy Flores.
Mas os adversários não estavam acomodados. Na etapa seguinte, em Trestles, Califórnia (EUA), as semifinais reuniram Medina, Fanning, Mineirinho e Filipinho. O australiano bateu Medina na semi e ficou com o título ao derrotar Adriano de Souza na final da etapa.
Na França, Gabriel Medina conseguiu, enfim, vencer uma etapa, a nona do circuito. Ele bateu Adriano de Souza na semifinal e o australiano Bede Durbidge na decisão. O caminho para o bi-campeonato ainda estava aberto.
A penúltima etapa, em Portugal, foi o palco da terceira conquista de Filipe Toledo na temporada. Ele fez uma final verde e amarela contra o calouro do ano, Ítalo Ferreira, e brindou o público com uma onda nota 10, na qual ele emendou um "floater" (surfou na crista da onda) e dois 360º - o segundo com um aéreo. Delírio na praia portuguesa de Peniche.
Na última e mais esperada etapa do circuito, em Pipeline, no Havaí, a tempestade brasileira já estava formada no horizonte do líder do ranking, Mick Fanning. O aussie só precisava chegar na frente de Mineirinho e de Filipinho para sagrar-se tetra-campeão. Medina precisava de uma improvável combinação de resultados: eliminação precoce dos três adversários e vitória na etapa. Como Fanning e Mineirinho sobreviveram até as semifinais (Filipinho caiu na quinta rodada), restava lutar pelo troféu da Tríplice Coroa Australiana, muito cobiçado pelos surfistas profissionais. A vitória sobre Fanning na semifinal, com direito a um improvável aéreo "full rotation" (com um giro de 360º), acabou dando o título mundial ao colega Mineirinho. Na bateria final, Adriano de Souza consagrou-se campeão mundial. A Brazilian Storm atingia, assim, a maioridade.
Para Mineirinho, muita coisa boa deve vir nos próximos anos. "A fase dos brasileiros é muito boa. Eu me sinto muito feliz por ter ajudado neste caminho. O Gabriel foi campeão mundial no ano passado, agora fui eu. Podemos ter outros no futuro. O importante é trabalhar sério, se dedicar e acreditar", concluiu o campeão mundial.
Em 2016, o Brasil terá dez representantes no Circuito Mundial: Medina, Mineirinho, Filipe Toledo, Italo Ferreira, Wiggolly Dantas, Jadson André, Miguel Pupo, Caio Ibelli, Alejo Muniz e Alex Ribeiro.